Luciano Alabarse, secretário municipal da Cultura de Porto Alegre
Dias inquietos, esses que antecedem nossas eleições. Polarizadas e agressivas, campanhas alimentam um clima de guerra declarada. Boatos se impõem e embaralham o jogo. O que é verdadeiro? O que é falso? perguntam-se, perplexos, aqueles que recusam o simplismo binário dessa escolha complexa. São perguntas absolutamente pertinentes, pois o mundo abandonou o velho projeto iluminista de investigar a verdade por meio da observação direta dos fatos. No atual contexto nacional, é mais fácil ignorar fatos que não se encaixem em nossas ideias preconcebidas para tão-somente acreditar naqueles que se encaixam. Mais ou menos assim: eu acredito no que eu acredito e você acredita no que você acredita. Parece estar na moda misturar tolerância zero à negação total de quem pensa diferente de nós.
Ser idealista no Brasil é, hoje, um fardo terrível. Parece que o mundo exige que você se torne uma pessoa completamente cínica, pragmática e calculista. Melhor desistir e abandonar o idealismo de vez. Nunca fomos tão radicais em política, tão fundamentalistas e rígidos em nossos pensamentos, tão incapazes de empatia. A forma como vemos o mundo é totalizante e irredutível, evitando completamente os problemas levantados pela diversidade. O país está se acostumando a viver com raiva. E a raiva, sabemos, é uma emoção mais fácil de aceitar do que fazer o esforço necessário para escapar dela.
Se você opta pelo caminho mais fácil, essa facilidade se torna um padrão e esse padrão acaba por confundir sua vida. A raiva não pode se transformar no padrão brasileiro de lidar com as diferenças. Parece que hoje importa pouco a distinção entre verdadeiro e falso, certo e errado. O Brasil precisa de pequenos e grandes gestos que tragam serenidade objetiva a todos nós que iremos votar, não provocações ou argumentos que afastem você daquilo que você realmente acredita. Os projetos para o Brasil foram postos. Examine-os sem a cegueira das paixões passageiras. Vote com amor e lucidez. O Brasil merece.