É promissor para a democracia que, na primeira entrevista depois de confirmados nas urnas para disputar o segundo turno, no Jornal Nacional, os dois presidenciáveis tenham recorrido à moderação. Ficou evidente a intenção de amainar os ânimos do eleitorado, que extravasaram todos os limites na reta final da primeira etapa de votação. Tanto Jair Bolsonaro (PSL) quando Fernando Haddad (PT) afastaram também a possibilidade de mudanças na Constituição, o que significa um alento para o país, que precisa se manter comprometido com o Estado democrático de direito.
O representante do PSL desautorizou seu candidato a vice no que diz respeito à intenção de mudar a Carta por meio de um "conselho de notáveis". O presidenciável do PT afirmou ter revisto sua posição de convocar uma Constituinte, como havia defendido durante a campanha em primeiro turno. A particularidade de ambos se comprometerem, de saída, em respeitar a Constituição é tranquilizadora, tanto sob o ponto de vista da campanha eleitoral quanto da própria democracia.
Por mais que a disputa deva se acirrar até a data da volta às urnas, os presidenciáveis precisam manter um debate elevado, transmitindo essa preocupação também à militância. Campanha em segundo turno é o momento de dar ênfase à discussão de propostas concretas para os problemas do país, que os tem de sobra. A prioridade de quem for eleito será enfrentar a crise econômica, buscando reordenar de imediato as finanças públicas e, com isso, garantir a governabilidade. O acirramento de ânimos não contribui para isso.
Quem quer que venha a ser eleito não contará com maioria num Congresso renovado. Assegurar as condições para a aprovação de reformas que são imprescindíveis para o reequilíbrio fiscal vai exigir muita capacidade de diálogo entre líderes que se colocam distantes dos extremos políticos no centro da disputa. O recado vale não apenas para a campanha nas ruas. É importante que seja levado em conta também nas redes sociais, um território onde vale tudo e impera a mentira que convém a um ou outro lado. Os próprios candidatos fariam um bem para o país se convocassem seus eleitores a recorrerem mais à verdade e à transparência, abrindo mão da avalanche de notícias falsas que marcou o primeiro turno.