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Com a realização da primeira etapa das eleições, o Brasil começa a desenhar agora seu novo mapa político. As negociações passam a envolver as novas bancadas para os Legislativos, tanto no caso de quem já for confirmado para um cargo executivo quanto no de quem ainda vai depender de uma definição em segundo turno. Infelizmente, a excessiva polarização nessa etapa decisiva para o Estado e para o país contribuiu para direcionar a campanha mais para a rejeição a um ou outro candidato do que para o apoio ou não às diferentes teses em disputa. De alguma forma, essa tendência ajudou a reduzir o desinteresse generalizado pela campanha, mas dificultou e mesmo impediu um debate mais a fundo sobre questões relevantes para o cotidiano dos cidadãos.
Em boa parte, o cenário marcado por divisões em que os brasileiros chegam às urnas deve-se à massificação do uso de redes sociais durante a campanha eleitoral, nas quais imperou o vale-tudo, contra e a favor de candidaturas. Nesse ambiente, torna-se ainda mais desafiador buscar a pacificação e o diálogo, mas não há outro caminho. A situação criada só não preocupa ainda mais porque, às vésperas do pleito, pesquisa Datafolha constatou um percentual de 69% dos eleitores, recorde desde 1989, para os quais o regime democrático é a melhor forma de governo. Esse é um sinal de apreço à Constituição brasileira, que está completando 30 anos e, já no seu primeiro artigo, institui "um Estado democrático".
A constatação ajuda a explicar também o fato de, entre o início da campanha eleitoral e agora, o percentual de desinteresse dos brasileiros pela eleição ter despencado, o que tende a se refletir também em menos voto branco e nulo do que o estimado inicialmente. Isso significa que, embora atípica, praticamente ausente nas ruas e, de maneira geral, marcada por menos embates diretos entre os candidatos, a campanha acabou conseguindo motivar mais os eleitores na medida em que o encontro com as urnas foi ficando mais próximo.
Mesmo tardio, e em grande parte impulsionado pela polarização, o aumento no interesse pela eleição é um aspecto promissor. Só o fortalecimento da democracia, por meio do voto de cada brasileiro, vai permitir o enfrentamento de uma profunda crise econômica e política como a que se constata hoje. O país só se reencontrará com o desenvolvimento se, depois das eleições, chegar a um denominador comum sobre prioridades em torno das quais é inadiável unir esforços.