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Candidatos ao governo do Estado terão a oportunidade hoje, no debate da RBSTV, de explicar aos eleitores como pretendem, de fato, fazer com que um poder público estagnado, sem condições de pagar sequer os servidores em dia, consiga reorganizar suas contas e retomar logo a capacidade de investimento. É isso o que os gaúchos esperam ouvir, claramente, no momento em que postulantes ao Piratini com mais chance de chegar à vitória estarão frente a frente para debater e confrontar propostas. O Rio Grande do Sul já perdeu tempo demais gerindo crises no setor público. Agora é a vez de avançar com propostas concretas que realmente acenem com saídas.
A preocupação se amplia diante da constatação de que os últimos governadores gaúchos se limitaram, na maior parte do tempo, a administrar o dia a dia, sem buscarem alternativas de médio e longo prazos, como demonstrou ampla reportagem na edição de fim de semana de Zero Hora. Entre 2003 e 2014 – e é possível que a situação se mantenha no governo atual –, raras vezes os governadores que se sucederam no cargo conseguiram investir acima de 5% das receitas públicas em obras, instalações, equipamentos e material permanente.
Essa reiterada falta de atenção a demandas básicas do contribuinte ocorre porque o setor público mal consegue se custear. Quando investe, ou é por exigência legal, o que explica o aumento de verbas a partir de 2012 na área da saúde, ou aplica mal os recursos, como se constata no caso da educação. Na área do ensino, ninguém investiu menos que o obrigatório, mas faltou qualidade na aplicação do dinheiro público. Em consequência, o padrão do aprendizado vem caindo. Na segurança pública, não há um percentual fixo por lei, o que demanda compromissos ainda mais firmes.
O lamentável é que, até agora, os eleitores do Rio Grande do Sul continuam sem saber exatamente o que cada candidato vai fazer, além de vagas promessas de "crescimento econômico" e combate ao desemprego, que são obviedades e platitudes de toda e qualquer campanha. A chave para garantir que, desta vez, o poder público gaúcho vai conseguir mesmo dar a volta por cima é esclarecer de onde os pretendentes a ocupar o cargo de governador a partir de janeiro vão tirar o dinheiro, e como. O resto é promessa e previsível discurso de dificuldades inesperadas uma vez no governo.
O fato concreto é que o Estado está quebrado e falta o aprofundamento do debate sobre como reverter a situação. Os gaúchos não têm como esperar mais por propostas objetivas, factíveis e que realmente consigam desatar o nó da imobilidade do setor público estadual.