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Marcada por uma polarização em níveis sem precedentes, a reta final da campanha desafia particularmente os presidenciáveis, mas também os eleitores, a exercerem de forma saudável e com responsabilidade o contraponto de ideias nas ruas e nas redes sociais. Excessos verbais costumam se mostrar inevitáveis no calor de uma eleição tão disputada. Ainda assim, candidatos à presidência de um país às voltas com sérias dificuldades políticas e econômicas não podem perder de vista que o eleito precisará governar para todos os brasileiros, não apenas para seus atuais apoiadores. Vale o mesmo para quem hoje se manifesta democraticamente tanto a favor quanto de forma contrária a um ou outro político, pois precisará reconhecer a legitimidade de quem conquistar mais votos, independentemente de ser ou não a candidatura de sua preferência.
Campanha eleitoral se faz com embate de ideias, com base em argumentos verídicos e sempre preservando o direito à livre manifestação, garantido a todos os brasileiros pela Constituição. Lamentavelmente, a ênfase a pontos de vista de candidaturas localizadas em pontos extremos do espectro ideológico tem determinado uma concentração excessiva em temas acessórios. A explicação está no fato de que servem mais para demarcar território em aspectos que, na maioria dos casos, transpõem o âmbito da própria política, pois dizem respeito a diferentes pontos de vista sobre temas comportamentais, valores ou concepções religiosas.
Na prática, essa tendência acaba limitando ou mesmo impedindo um debate mais aprofundado sobre questões inadiáveis. É o caso, por exemplo, de reformas estruturais, do ajuste do setor público, de alternativas para a segurança, da reativação da economia e da oferta de emprego. Quem for eleito para comandar o país precisará enfrentar essas pendências de imediato, como forma de acomodar expectativas conflitantes, para não correr o risco de gerar ainda mais frustrações na sociedade.
Até a decisão final das urnas, é importante que as divergências relacionadas à campanha presidencial possam ser debatidas num clima de paz, de consideração, de pluralidade e de tolerância. Democracia não é monopólio de um ou outro grupo, pois pressupõe o respeito às diferenças, assegurando voz a todos os que desejam se manifestar e defender o direito de ter quem os represente. Passado o pleito, o país precisará contar com um presidente em condições de negociar com os demais poderes, a começar pelo Congresso, e com o conjunto da sociedade civil.