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É natural que as atenções dos eleitores estejam voltadas mais para as eleições majoritárias, que vão definir quem vai presidir o Brasil e governar os Estados a partir de janeiro do próximo ano. Ainda assim, os brasileiros não podem perder de vista que nada de relevante acontece no país ou no Estado, bem como no município, sem passar pelo Legislativo. Daí a importância também das eleições proporcionais, que irão definir, neste ano, quem representará os interesses dos gaúchos na Assembleia e na Câmara de Deputados. E, em consequência, a quem caberá decidir sobre reformas que o Rio Grande do Sul e o país precisam implementar logo para assegurar o equilíbrio das contas públicas e a própria governabilidade.
Porto Alegre é um exemplo negativo da falta de atenção necessária à escolha dos legisladores. Nenhuma reforma significativa foi aprovada pelos vereadores e a Capital está às voltas com problemas insolúveis pela falta de recursos para manutenção básica. Imagine-se agora a possibilidade de o Estado e o país, que terão seus gestores definidos no pleito deste ano, serem administrados por homens públicos sem o apoio necessário na Assembleia ou no Congresso.
Não existem salvadores isolados: governos vão precisar sempre dialogar com os parlamentos, que devem ser constituídos por homens e mulheres que coloquem o interesse coletivo acima do individual. Infelizmente, a necessária renovação ainda não ocorrerá desta vez. A rejeição aos políticos de maneira geral, visível na desmotivação entre os eleitores, não intimidou quem já tem mandato como legislador. Três em cada quatro parlamentares disputam a reeleição para o Congresso, o que contribuiu para elevar o número de candidatos tanto para a Câmara quanto para o Senado.
O aumento no número de interessados em se reeleger na campanha atual limita o espaço para novos candidatos. A dificuldade ficou ainda maior porque, com as mudanças no modelo de financiamento, que não permite mais doações de empresas, os recursos do fundo eleitoral ficaram concentrados nas mãos de quem já tem mandato. A explicação para isso está no fato de que, quem faz as leis, tende a se autofavorecer.
Ainda assim, velhas práticas da política tradicional não podem servir de desestímulo aos eleitores, que precisam aproveitar as brechas disponíveis para fortalecer e renovar os parlamentos. O pleito do fim de semana pode ser visto como uma oportunidade importante para colocar essa mudança em prática.