Resultado de uma nova equação política, na qual versões difundidas pelas redes sociais tentam se impor a todo custo, o resultado das urnas deste 7 de outubro indica que os eleitores decidiram ungir ao segundo turno candidatos a presidente que, mais do que serem conhecidos por propostas factíveis, esmagam a noção de moderação que tradicionalmente se impunha nas eleições presidenciais. Como migraram para o segundo turno dois candidatos com alto grau de rejeição, é previsível que, se não houver um mínimo de recomposição do tecido social do país, o Brasil pós-28 de outubro sairá das eleições ainda mais dilacerado do que no início da campanha.
Por isso, são alvissareiras as primeiras declarações dos dois candidatos no sentido de procurar aplicar a sede vingança e revanchismo de suas bases. Pregar a pacificação do país é a obrigação de todo candidato que deseje se instalar no Palácio do Planalto no alvorecer de 2019. Muitos eleitores dos elogios oponentes são dotados de fervor quase religioso, um comportamento que nunca foi bom conselheiro quando se trata de política e, menos ainda, quando está em jogo a administração de um país diverso, complexo e com tantos problemas de curto e longo prazos.
Agora é a hora de desarmar espíritos, a fim de se evitar que as feridas abertas pela campanha não cicatrizem jamais, gerando uma crise institucional depois de outra e inviabilizando qualquer governo, seja quem for o vencedor. Quando um governo entra em colapso absoluto, não são o governante e o partido de ocasião os que mais perdem, mas sim toda a sociedade. Os investimentos desaparecem, o desemprego se agrava ainda mais, perseguições viram lugar-comum e, para muitos, a saída é a busca de refúgio no Exterior, como ocorre na Venezuela. A degradação da política, que é a arte do diálogo e de se chegar a um mínimo de acordo a favor da coletividade, não pode e não deve continuar para sempre.
O brasileiro, como mostra recente pesquisa do Datafolha, nunca se mostrou tão favorável à ideia de democracia, mas ela só perdurará se houver diálogo e convergência sobre princípios básicos, como respeito às leis, às decisões judiciais e ao voto. Costurar alianças, desde que sobre bases programáticas e não sobre a distribuição de cargos, é um elemento natural de democracias e uma obrigação de quem se elege em sistema presidencialista como o do Brasil. Uma sólida base de apoio no Congresso será essencial para garantir a aprovação de projetos de fundo e garantir as mudanças por que tantos anseiam sem abrir mão da estabilidade política, econômica e social duramente conquistada.