Por Ricardo Felizzola, CEO do Grupo PARIT S/A
Japão e Coreia do Sul são exemplares no ensino básico e isto é importante causa do progresso daqueles países. Por 10 anos fui professor e posso afirmar que educar é um processo complexo no qual os resultados dependem de capacidade didática e disciplina. Fala-se muito da revolução no ensino, com uso de novas tecnologias e computadores, e que as crianças, para enfrentar os desafios de hoje, devem aprender a ler e escrever perfeitamente, além de muita matemática e ciências. Isso é realmente necessário.
Nas escolas asiáticas, porém, observa-se que existe algo mais e há mais tempo: um esforço enorme em ensinar disciplina. O conhecimento humano só prospera com disciplina. Nesse caso, é famosa e muito aplicada nas empresas industriais (ensinando-se colaboradores já adultos no Brasil) a técnica dos cinco sensos (5S): o de limpeza, organização, utilidade, asseio e hierarquia. Lembro de ter aprendido isso já com mais de 30 anos de idade na minha primeira empresa. Educávamos funcionários para estabelecer uma base na qual pudéssemos evoluir com os conceitos de qualidade, isso na década de 1990.
Ora, os japoneses e coreanos ensinam o “5S” na escola fundamental para as crianças de cinco a sete anos que aprendem a não sujar, para aprimorar a limpeza nos ambientes, a procurar um lugar para cada coisa e colocar cada coisa no seu lugar em termos de organização de um espaço. Aprendem utilização, descartando o que não é usado e diminuindo, assim, o número de itens a serem organizados. Aprendem a lavar as mãos, a escovar os dentes, banhar-se, vestir-se e pentear-se, compreendendo o asseio e, por fim e muito importante, aprendem que, na vida, a hierarquia não pode ser confundida com submissão e, sim, é uma forma de adquirir conhecimento através de um comportamento regulado pelo respeito aos mais velhos, entendendo que eles, por terem mais sabedoria, vão seguir de guia para a evolução individual de cada um.
No debate eleitoral, citam-se os colégios militares como exemplo tangível de boa educação no Brasil, e há de se concordar. Ali, desenvolvem-se hábitos que minha geração, nos anos 1960, aprendeu em escola pública quando, uniformizados, fazíamos, diariamente, ordem unida para entrar em aula depois de ter cantando o Hino Nacional. Por que isto acabou? Nos tornamos um país melhor por abandonar os fundamentos da hierarquia?