Porto Alegre tem muita coisa linda, mas, entre elas, definitivamente, não está seu hino (ouça ali em cima). Lembrei disso ontem, ao ler um projeto de lei do vereador José Freitas (PRB): ele quer tornar obrigatória a execução do hino da Capital em escolas municipais "sempre que forem executados o Hino Nacional ou o Hino Rio-Grandense".
Nada contra o vereador Freitas, sei que ele teve boa intenção – acho saudável uma comunidade valorizar seus símbolos, e é bom que seus líderes estimulem isso. Só que não se empurra um símbolo goela abaixo. Ainda mais quando a coisa não tem a menor vocação para símbolo.
Nem na Câmara Municipal ouve-se o Hino de Porto Alegre – nas sessões solenes, os vereadores só escutam os hinos do Estado e do Brasil. Nos eventos da prefeitura, segundo o cerimonial do município, é a mesma coisa. Quer dizer: se nem as autoridades da cidade sujeitam-se a isso, como obrigar crianças de seis anos de idade a ouvir três hinos no mesmo evento? É para enlouquecer.
Ainda mais esse Hino de Porto Alegre, que, cá entre nós, é de uma pobreza melódica, harmônica, lírica, estética, métrica, imagética, rimática e estrutural aterradora. Mesmo assim, eu aqui, particularmente, entendo que seria interessante as escolas municipais ensinarem esse hino – como ensinam outros – em sala de aula. Até para as crianças saberem que, sim, Porto Alegre tem seu hino. E vai que elas se animem a compor um melhorzinho.
O vereador Freitas, na justificativa do projeto, faz uma comparação com o Hino Rio-Grandense. Sugere que ele só passou a ser cantado por todos porque órgãos oficiais o divulgam. Não é verdade. Ele passou a ser cantado por todos porque é bom. Porque as pessoas se identificam. E, justamente por ser bom, tornou-se parte de uma cultura – e cultura não se faz com imposições.
Podem obrigar os estudantes a cantar o Hino de Porto Alegre 365 dias por ano. Eles vão decorá-lo, coitados, mas duvido que um dia o cantem por vontade própria. Melhor mesmo é respeitar o que a população da cidade já fez até aqui: manter essa marchinha mequetrefe esquecida.