Vinte anos depois da privatização das empresas do sistema Telebras, o país alcançou o feito de universalizar a telefonia fixa, na época um serviço de luxo, e elevou o número de aparelhos móveis a um total superior ao de brasileiros. Ainda assim, não conseguiu acompanhar a velocidade das transformações tecnológicas, o que vai exigir investimentos ainda mais elevados pela frente. Diante da rapidez das mudanças nessa área, o desafio precisa ser encarado como prioridade já no próximo ano, quando já estarão empossados os representantes eleitos para a presidência da República e para o Congresso.
Hoje, a prioridade do Brasil é completar a transição entre telefonia e tecnologia. Às vésperas da chegada do conceito de quinta geração de internet móvel, por exemplo, conhecido como 5G, o país ainda não conta com padrões aceitáveis de preço e qualidade sequer para quem se vale hoje, no cotidiano, de 3G e 4G. Em muitas regiões, o serviço ainda nem está disponível. Em outras, há oferta, mas a qualidade é precária e a velocidade, excessivamente lenta. Além disso, a tarifa é elevada demais em comparação com a cobrada em outros países. Isso faz com que praticamente todos os brasileiros tenham celular, mas poucos consigam consumir serviços na quantidade e com a qualidade desejada.
Uma das explicações das empresas da área para o atraso, presente também na rede de banda larga fixa e de fibra óptica, é que a Lei Geral das Telecomunicações, aprovada há mais de duas décadas, dá mais ênfase à telefonia fixa, cada vez menos utilizada. Outra justificativa é a carga tributária excessiva. Adequar o marco regulatório às transformações recentes e reduzir o peso dos impostos e tributos nessa área são desafios que precisam ser enfrentados logo. O Brasil não pode correr o risco de perder corridas importantes que já vêm sendo ensaiadas no mundo desenvolvido. Entre elas, estão a chamada internet das coisas, a partir da qual o cotidiano das pessoas se mostra cada vez mais conectado, e a indústria 4.0, direcionada à tecnologia para automação e troca de dados. Esse é um debate que precisa ser encaminhado já no início do próximo ano, quando os eleitos em outubro tomarem posse.
O país conseguiu romper com o monopólio arcaico da Telebras e avançou na telefonia e transmissão de dados, mas ainda precisa dar um salto para acompanhar as inovações na área. Esse é um debate que, duas décadas depois do fim das ingerências políticas no sistema, não tem mais como ser adiado.