Por Lara Lutzenberger, presidente da Fundação Gaia - Legado Lutzenberger
Torres anda ameaçada! Como todo tesouro tornou-se desejo e cobiça!
Desde os anos 80 o afluxo de veranistas e residentes aumentou e a construção civil encontrou terreno fértil para desenvolver-se horizontal e verticalmente. O terreno é fértil, mas arenoso; e pode esvair-se com o vento!
O que dizer sobre a demolição crescente dos casarios – testemunhos charmosos de outros tempos; construções que quase transbordam os limites do seu terreno, desarmonizando o entorno; perspectiva de ampliação de três para cinco andares na zona 8 (quadras junto à orla da Praia Grande) e de um prédio à beira mar na Praia da Cal a apagar o entardecer das ondas no mar?
Não bastassem os congestionamentos, busca-se ampliar o acesso automotivo no Parque da Guarita com nova entrada lateral. O Parque da Guarita clama por um museu que nunca saiu do papel; necessita de melhorias estruturais na sua estrada circular interna e recuperação de trilhas erodidas no alto de suas torres – sim, as torres que dão nome à cidade! Como fazer mais um rasgo asfáltico, quando há tantas prioridades mais condizentes com o provimento de condições adequadas para a fruição desse espaço?
Será que no deslumbramento com as facilidades da modernidade estamos nos esquecendo dos recursos naturais e humanos que nos atraíram? Torres tem uma fisionomia geológica litorânea espetacular e uma dimensão urbana arejada e palpável. Seus paredões basálticos e parques com dunas e vegetação perfumada e retorcida; o Morro do Farol; a vista ampla da Serra Geral, o recorte singular de suas quatro praias; a lagoa que lembra um violão e o rio no qual golfinhos e pescadores movimentam a divisa estadual são os seus maiores atrativos! A cidade deve valorizá-los, não os sufocando com prédios que diminuem a percepção de sua magnitude ou desarmonizam seu traçado, com sombreamentos indesejados, adensamento, sujeira e motores poluentes!
Investindo em bela arquitetura, saneamento, produção agrícola e energética local, mobilidade não motorizada, natureza e cultura qualificamos as joias de Torres! Caso contrário, arriscamos perder esse tesouro!