Por Fernando Carrion, engenheiro, ex-deputado federal
Um porto em Torres não é algo e esmo, mas uma ideia secular. Em 1861, após a pendência com a Inglaterra pela Questão Christie, o imperador Pedro II contratou os engenheiros ingleses Law e John Clarke para estudarem o melhor local de porto marítimo na costa sul, e aí apareceu Torres.
Após longas pesquisas, em 1875 o relatório propôs "construir dois molhes mar adentro, um a partir da Torre Norte (Morro do Farol) e outro a partir da Torre do Centro (Morro das Furnas), até quase a ilha dos Lobos, num ancoradouro de 100 hectares". Extensos levantamentos batimétricos apontam as águas de Torres como ideais, pois "lá não há dificuldade de construção e é a melhor posição para propósitos militares e navais". O estudo define até a futura construção: "O molhe sul seguirá o alinhamento de um parcel submarino situado a 18 metros de profundidade, ladeado por duas depressões de 26 metros de fundo, já medidos, com boa bacia de evolução para manobra dos navios".
Com o relatório, o almirante Tamandaré, chefe da Comissão Naval Nacional, recomendou a construção, mas nada se fez. Em setembro de 1931, o presidente Getúlio Vargas retomou a ideia e o Decreto 20.477 autorizou "contrato com o Estado do Rio Grande do Sul para construir o Porto de Torres", mas a ideia não prosperou.
Em fevereiro de 1993, como deputado federal, fui relator da Lei 8.630, aprovada pelo Congresso, que regula o sistema portuário brasileiro, e entendi o acerto dos engenheiros ingleses. A presença do paredão basáltico dos Aparados da Serra, a 30 quilômetros a oeste de Torres, com alturas de até 1,4 mil metros, explica geologicamente o profundo mar de Torres, com maior calado do que Rio Grande.
Nos últimos anos, Santa Catarina construiu dois novos portos e, hoje, tem cinco, com 420 quilômetros de litoral. Nosso litoral de 620 quilômetros não deve ficar com apenas um porto marítimo, forçando nossos produtores da Metade Norte a onerosos fretes até Santa Catarina e Paraná. Nossa produção agropecuária e industrial merece escoar e ser exportada aqui mesmo. Vamos, pois, à procura do tempo perdido. O anteprojeto do Porto de Torres já existe.