Por Jean Von Hohendorff, psicólogo, mestre, doutor em Psicologia, professor e pesquisador na Atitus Educação
O Brasil vivenciou, nos últimos anos, aumento no número de ataques às escolas. Os ataques costumam ter grande repercussão e mobilizam discursos contra a violência e de proteção às crianças. As ações de enfrentamento propostas costumam ter caráter imediatista como a de intensificar o policiamento nas escolas e até mesmo armar professores.
É preciso entender que não existem soluções simples e imediatas para problemas complexos. Vários fatores colaboram para que uma pessoa entre numa escola, armada, e cometa assassinatos — desde a flexibilização do porte de armas de fogo até a falta de regulamentação das redes sociais. O aumento no número de ataques às escolas ocorreu justamente no período de maior flexibilização do porte de armas de fogo no Brasil.
Precisamos entender que liberdade de expressão é totalmente diferente de discurso de ódio sob pena de a violência ser uma constante em nossa sociedade
Outro importante fator é a participação dos autores desses ataques em grupos de discussão em redes sociais nos quais conteúdos de incitação à violência são compartilhados. Tais conteúdos costumam estar relacionados à misoginia, supremacia racial e patologização da diversidade. Assim, é urgente a moderação dos conteúdos compartilhados em redes sociais, bem como a discussão de temas como gênero e diversidade nas escolas com o intuito de promover o respeito às diferenças.
Enquanto insistirmos em ações imediatistas e superficiais, os ataques continuarão acontecendo. Precisamos entender que liberdade de expressão é totalmente diferente de discurso de ódio sob pena de a violência ser uma constante em nossa sociedade. Enquanto responsáveis por redes sociais flexibilizarem regras, permitindo que notícias falsas e discursos de ódio sejam compartilhados, continuaremos reagindo com consternação diante de ataques enquanto apoiamos a ideia mentirosa de liberdade de expressão.
É imprescindível que a diversidade humana seja respeitada. Caso contrário, estaremos incentivando que pessoas acreditem terem o direito de aniquilar quem é diferente já que se trata apenas de "liberdade de expressão". A tal liberdade que querem não é de expressão, é de opressão — oprimir e eliminar quem pensa e é diferente daqueles que acham que suas ideias e seu reflexo no espelho são a única e correta possibilidade de existência.