Na areia do Parque Estadual José Lutzenberger, mais conhecido como Parque da Guarita, o homem também deixa suas marcas. Retas ou onduladas, elas ajudam a desenhar uma mensagem objetiva: "Preserve Torres".
É pelos braços de Paulo Ricardo França, 48 anos, que as letras e figuras surgem e ganham o tamanho que a causa merece. Gigantes, os desenhos do comerciante, pescador e artista nativo de Torres são vistos melhor do alto do Morro do Meio, acessado por uma escadaria de pedra. Ao fundo da tela desenhada por França, estão nada menos do que as falésias da Praia da Guarita.
A precisão das palavras e dos desenhos e a rapidez com que o torrense brinca com os instrumentos de trabalho - uma cavadeira e um rastelo - transmitem a ideia de um certo profissionalismo. Mas ele nega. França conta que aprendeu sozinho, evoluindo da velha brincadeira de formar desenhos na areia quando criança.
Influenciado pelo ecologista José Lutzenberger, que tomava chimarrão com seu avô, França tem uma certeza: o ambientalista gaúcho que costumava cutucar os sujões da praia era um sábio. Desde então, ele tomou para si a missão de tentar manter o ambiente limpo - pelo menos na principal atração turística de Torres.
O compartilhamento de suas mensagens em favor da defesa da natureza se iniciou em meados de 1996.
- Tinha muito toco de cigarro. Comecei a fazer uma flor onde recolhia-os. Comecei fazendo pequeno, e a praia ficou cheia de pequenos desenhos - conta.
Um ano depois, ao ver que o trabalho não estava surtindo efeito, França lançou a frase "Preserve Torres" e, sem nenhuma medição mais precisa, começou a ocupar mais espaço. Estimulado pelo filho, após um mês, subiu no morro e percebeu o quanto sua obra ficava bonita vista do alto.
- Aumentei para visualizarem melhor e chamar atenção de que o ambiente estava limpo - explica França.
Além da tradicional frase "Preserve Torres", ele também desenha flores, estrelas, corações e coqueiros e escreve mensagens desejando aos visitantes Feliz Natal e Ano-Novo. A criatividade e o sentimento do momento podem resultar em novas escritas. No ano passado, quando perdeu a mãe vítima de câncer de mama, ele traçou o laço símbolo da campanha de prevenção e escreveu "Outubro Rosa".
Trabalho começa ao amanhecer
A ideia deu certo, e França segue com sua tarefa diária porque, garante, dá resultado. Logo cedo, antes mesmo de o parque abrir para visitação, ele prepara o terreno.
- Todo ano, ele faz. Chega às 6h, começa a armar o quiosque e faz o desenho. É bem legal - diz o salva-vidas Cristiano da Rosa, que acompanha a dedicação de França enquanto, da guarita 11, cuida da segurança dos banhistas.
Dono de um dos bares à beira da praia, França divide o serviço com a mulher e o filho mais novo, Willian Torres França, 19 anos, cujo nome do meio é mais uma das declarações de amor do ambientalista à terra natal. Sem nenhum ganho financeiro pelos desenhos na areia, que deixam as fotos tiradas no local ainda mais belas, o artista "arenoso" - como ele mesmo se define - sente-se recompensado quando vê os turistas elogiando a limpeza da praia.
- O lucro maior que tenho é que amo a cidade, amo Torres e, para mim, o importante é (tudo) estar limpo - diz.
França se entristece ao perceber que, em 2014, a cultura da preservação, do tradicional alerta "não jogue lixo no chão, jogue lixo no lixo" ainda não é seguida por parte da população. Mas nem a maré alta, a brincadeira de crianças ou o futebol dos guris, que durante o dia apagam todo o seu trabalho, o abalam.
- Tenho prazer de fazer. Se fizer uma vez e ficar o verão todo, aí não é legal. Assim, é uma tela que estou pintando todo dia - afirma o ambientalista torrense.