Os Estados Unidos vetaram nesta sexta-feira (8) uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia um "cessar-fogo humanitário imediato" na Faixa de Gaza, onde o Exército israelense trava duros combates com o movimento islamista palestino Hamas.
A resolução da máxima instância das Nações Unidas, redigida pelos Emirados Árabes Unidos e que contava com o apoio de cem países, recebeu 13 votos a favor, um contra (Estados Unidos) e uma abstenção (Reino Unido).
Antes da votação, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que "a violência cometida pelo Hamas" não pode "justificar, em nenhum caso, a punição coletiva do povo palestino".
Guterres invocou na quarta-feira o artigo 99 da carta da organização para convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança e aliviar a situação catastrófica na Faixa de Gaza.
Mas os Estados Unidos, o principal aliado de Israel e um dos cinco membros permanentes do Conselho, exerceram seu poder de veto no órgão máximo de decisão da ONU.
Desde 7 de outubro, Israel bombardeia o território palestino em resposta ao ataque cometido por combatentes do Hamas contra o seu território, no qual mataram aproximadamente 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 240, segundo as autoridades israelenses.
Em paralelo aos bombardeios, Israel, que prometeu "aniquilar" o Hamas, realiza desde 27 de outubro operações terrestres em Gaza, reduzida a escombros.
Os combates entre as tropas israelenses e os milicianos islamistas se concentram atualmente em Khan Yunis, a cidade mais importante do sul da Faixa, mas também prosseguem no norte, na Cidade de Gaza e em Jabaliya.
O Hamas, classificado como grupo terrorista por Estados Unidos e União Europeia, denuncia que mais de 17.400 palestinos, a maioria civis, morreram até agora nas ações militares israelenses.
"Hecatombe de vidas palestinas"
O Exército israelense afirmou que atingiu 450 alvos em Gaza nas últimas 24 horas e que encontrou partes de foguetes, lançadores e outras armas na Universidade Al Azhar na Cidade de Gaza.
Em Khan Yunis, o Exército anunciou que estava avançando "casa a casa" para encontrar combatentes de Hamas, que governa o pequeno território desde 2007.
As tropas expandiram esta semana suas operações para o sul da Faixa, onde centenas de milhares de civis buscaram refúgio e se encontram agora bloqueados.
"Os que sobreviveram aos bombardeios correm agora um risco iminente de morrer de fome e doenças", advertiu a ONG Save the Children junto com outras organizações não governamentais, que denunciam uma situação "apocalíptica".
O chefe da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), Philippe Lazzarini, pediu nesta sexta um "cessar-fogo humanitário imediato" para evitar uma "hecatombe de vidas palestinas".
Desde 9 de outubro, Israel impõe um cerco quase total à Faixa, o que impede a chegada de água, comida, medicamentos e eletricidade.
Os bombardeios israelenses apenas foram interrompidos durante a trégua de uma semana que entrou em vigor em 24 de novembro, negociada com a mediação do Catar, Egito e Estados Unidos.
Durante o cessar-fogo, Israel e Hamas trocaram reféns por prisioneiros palestinos mantidos em prisões israelenses. Mas as autoridades israelenses afirmam que ainda há 138 reféns em Gaza, onde 93 soldados israelenses morreram desde o início da ofensiva.
A força armada reconheceu nesta sexta que fracassou em uma operação para libertar reféns e que a operação teve como saldo dois soldados feridos. O Hamas, por sua vez, afirma que um refém morreu.
EUA veta resolução
Diante da "situação catastrófica" em Gaza, o Conselho de Segurança deveria se pronunciar sobre um chamado a um cessar-fogo. Mas antes da votação, os Estados Unidos indicaram que não apoiariam essa moção.
— Os Estados Unidos apoiam firmemente uma paz duradoura, na qual ambos, israelenses e palestinos, possam viver em paz e com segurança, mas não apoiamos os pedidos de um cessar-fogo imediato — declarou o embaixador adjunto dos Estados Unidos na ONU, Robert Wood.
Uma trégua "semearia as sementes da próxima guerra", pois o Hamas "não deseja uma paz duradoura", acrescentou.
Desde o início da guerra, o Conselho de Segurança apenas conseguiu adotar uma resolução que pediu "pausas e corredores humanitários" em Gaza.
A ONG Médicos Sem Fronteiras denunciou na sexta-feira que "a inação do Conselho de Segurança das Nações Unidas e os vetos dos Estados-membros, em particular dos Estados Unidos, os tornam cúmplices do massacre em curso".
Segundo a ONU, mais da metade das casas ficaram destruídas ou danificadas no território e 1,9 milhão de pessoas, 85% da população, estão deslocadas.
A guerra reacendeu também as tensões na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967. A Autoridade Palestina indicou que as forças israelenses mataram a tiros seis palestinos em um campo de refugiados.
Questionado pela AFP, o Exército israelense indicou que realizou uma operação e deteve dois conhecidos "terroristas", que já tinham sido presos anteriormente.