O Exército de Israel anunciou nesta quinta-feira (9) que destruiu um "importante centro" do Hamas e reforçou a ofensiva no norte de Gaza, de onde dezenas de milhares de palestinos fogem para o sul com a esperança de encontrar refúgio, após mais de um mês de bombardeios e cerco.
O êxodo de civis para o sul do pequeno território palestino acelerou com a intensificação dos bombardeios e combates terrestres, segundo observadores da ONU.
O Exército anunciou que tomou o controle na quarta-feira (8), "após 10 horas de combates", de um importante centro do Hamas em Jabaliya, um campo de refugiados do norte de Gaza, onde os "terroristas treinam e executam ataques".
Além disso, Israel anunciou que um bombardeio aéreo matou um comandante militar do Hamas, Ibrahim Abu-Maghsib.
Israel prometeu "aniquilar o Hamas" em represália pelo ataque contra seu território em 7 de outubro, quando os combatentes islamistas mataram 1,4 mil pessoas, a maioria civis, e sequestraram 239 israelenses e estrangeiros.
Além dos bombardeios efetuados desde o dia do ataque do Hamas, Israel iniciou em 27 de outubro uma ofensiva terrestre que, segundo o Exército, permitiu entrar "profundamente" na cidade de Gaza. Israel afirma que a cidade abriga o "centro" do Hamas, escondido em uma rede de túneis de centenas de quilômetros. Na operação, morreram 34 soldados israelenses.
Em uma incursão ao epicentro dos combates organizada pelo Exército, cujas imagens foram submetidas à censura militar, a AFP observou palmeiras queimadas, postes de iluminação derrubados e painéis de sinalização deformados ao longo da estrada na costa.
As Forças Armadas de Israel, no entanto, negam a existência de uma "crise humanitária" na Faixa de Gaza e afirmam que estão facilitando a transferência de ajuda humanitária para Gaza, embora reconheçam "a situação difícil" enfrentada pelos moradores de Gaza.
Ajuda humanitária
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) calcula que 72 mil pessoas fugiram desde a abertura de um corredor de saída em 5 de novembro.
O Exército de Israel anunciou que um novo "corredor" seria aberto nesta quinta-feira (9), depois que 50 mil civis fugiram para o sul na quarta-feira (8).
— Foi assustador — declarou à AFP Ola al Ghul, que fugiu dos combates. — Levantamos as mãos e continuamos caminhando. Éramos tantos, estávamos com bandeiras brancas — disse.
Porém, centenas de milhares de pessoas ainda estão na parte norte do território, em uma "situação humanitária desastrosa".
A ONU calcula em 1,5 milhão o número de pessoas deslocadas desde o início da guerra dentro do território palestino, que tem 2,4 milhões de habitantes.
— Tomamos a decisão de partir porque os bombardeios eram muito intensos — explicou à AFP Ehsan Abu Salem, que mostrou o filho de dois meses. — As crianças e as mulheres estão aterrorizadas e não aguentamos mais — relatou.
Centenas de milhares de refugiados estão no sul em condições desastrosas.
Crise da humanidade
O território palestino está cercado há quase um mês, sem acesso ao fornecimento de água, alimentos, medicamentos ou energia elétrica, dependente dos comboios reduzidos de ajuda que entram pelo ponto fronteiriço de Rafah, procedentes do Egito.
Dezenas de feridos palestinos também foram retirados por Rafah. Treze ONGs, incluindo Médicos Sem Fronteiras e Anistia Internacional, pediram na quarta-feira (8) um "cessar-fogo imediato", na véspera de uma conferência organizada pelo presidente francês Emmanuel Macron, em Paris.
O governo israelense não enviou representante à reunião e os países árabes não enviaram emissários de alto escalão.
Sem trégua
Apesar dos apelos por "pausas" humanitárias, "tréguas" ou "cessar-fogo", o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyanu, insiste que não vai ceder enquanto o Hamas não libertar os 239 reféns.
O conflito também afeta países vizinhos, com incidentes na fronteira Israel-Líbano, onde foram registradas trocas de tiros entre o Exército israelense e o movimento Hezbollah, apoiado pelo Irã.
Segundo um balanço da AFP, ao menos 83 pessoas morreram do lado libanês nos confrontos, sendo 11 civis.
Na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967, oito palestinos morreram nesta quinta-feira (9) durante uma incursão do Exército israelense em Jenin, segundo o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina.