Um mês depois dos maiores atentados terroristas da história de Israel, a guerra contra o Hamas entra em um momento decisivo no campo de batalha. A resposta ao massacre, que deixou 1,4 mil mortos em seu território, foi com bombardeios massivos à Faixa de Gaza, que tinham como alvo comandantes da organização extremista, mas que deixaram também muitos mortos entre civis (cerca de 10 mil, segundo os palestinos).
No conflito, a ação aérea foi seguida de um cerco, com a convocação de 300 mil reservistas. A incursão terrestre só começou três semanas depois do ataque do Hamas e, nas últimas horas, está focada em um cerco à Cidade de Gaza, o principal conglomerado urbano do território, e no corte geográfico entre o Norte e o Sul. As Forças de Defesa de Israel (FDI) teriam chegado ao outro lado da Faixa de Gaza, no Mar Mediterrâneo, partindo a área em duas porções.
Há, entretanto, muitas incertezas sobre o futuro do conflito. A principal dúvida é sobre o que virá depois que Israel ocupar totalmente Gaza: chamará a Organização das Nações Unidas (ONU) a formar uma força multinacional para estabilizar a crise? Convidará a Autoridade Nacional Palestina (ANP) para governar o território palestino? Ou exercerá o governo em Gaza?
Qualquer opção implica riscos: uma força internacional deveria ser integrada, preferencialmente, por militares oriundos de países árabes, mas, ao mesmo tempo, a ONU sequer conseguiu evitar a guerra. Teria capacidade de impor a paz?
No caso de a ANP governar a Faixa de Gaza, há outro problema: a conhecida fragilidade institucional dos únicos representantes formais dos palestinos. Também é famosa a corrupção de seus membros. E ainda há pouca confiança das massas palestinas (e das elites árabes) na própria organização - sem falar na popularidade baixa de seu idoso líder Mahmoud Abbas.
A terceira opção, governar Gaza, teria risco estratégico altíssimo para Israel - e tudo o que Benjamin Netanyahu não quer, neste momento, é mais problemas, porque sabe que a conta pelo apagão de inteligência que facilitou o massacre do dia 7 vai chegar - essa fatura irá se juntar às acusações das quais é réu na Justiça, por corrupção. Além disso, os exemplos históricos não contribuem para que se abrace a ideia de administrar o pós-guerra. Os Estados Unidos, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, destronaram o Talibã do poder no Afeganistão, mas, 20 anos depois, a milícia fundamentalista retornou ao poder. No Iraque, os americanos derrubaram Saddam Hussein, mas do caos nasceu o grupo terrorista Estado Islâmico, tão ou mais cruel que a Al-Qaeda.
Um mês depois do início de mais um conflito no Oriente Médio, observa-se Gaza imersa em uma crise humanitária, com grande contingente de população deslocada, com comida, água e remédios escassos. Do lado israelense, vilarejos do sul e do norte país se tornaram áreas fantasmas. Mas, apesar de escaramuças com o Hezbollah, na fronteira com o Líbano, a guerra não transbordou para os vizinhos - o que não significa que não irá ocorrer.
Há dúvidas sobre as intenções do Hamas em realizar o ataque do dia 7: se era atrair o Hezbollah para o conflito, ensanduichando Israel, pelo Norte e pelo Sul, não deu certo. A milícia fundamentalista, embora tenha apoiado o ataque terrorista de seus irmãos do Sul, seu líder, Hassan Nasrralah, não deu a entender que irá partir para uma guerra total contra os israelenses - o preço seria a invasão do sul do Líbano, o que levanta outra dúvida: sobre a capacidade de Israel em lutar em duas frentes.