Com um amigo como Nicolás Maduro, o presidente Lula não precisa de inimigos na América do Sul. Como deu corda ao sucessor de Hugo Chávez e chegou ao absurdo de dizer que a Venezuela é uma democracia, Lula terá agora de embalar a criatura que resolveu anexar mais da metade do território da vizinha Guiana, uma região rica em petróleo e outros minerais.
Lula não pode nem usar a desculpa usada em outras ocasiões para não condenar os arroubos ditatoriais de Maduro, de que respeita a autonomia dos povos. O presidente brasileiro mesmo criou o precedente ao se meter numa guerra mais distante, a da Ucrânia, em que passou vergonha diante da comunidade internacional ao tentar equiparar as culpas em um conflito desigual. A Ucrânia foi invadida pela Rússia que, quase dois anos depois, segue matando inocentes (não é só em Gaza que morrem civis). A sugestão de Lula foi que cada um cedesse um pouco, o que significaria a rendição da Ucrânia diante do invasor.
No caso da ameaça de anexação de arte do território da Guiana, depois de um referendo com claros sinais de manipulação, Lula sugere que "as duas partes sentem para conversar". O presidente brasileiro tem é que sentar com Maduro e dizer a seu protegido que pare de brincar de War na América do Sul.
Sentindo que vai perder a eleição, porque a crise econômica aduba o terreno para a oposição, Maduro repete a fórmula que deu errado com o general Leopoldo Galtieri na Argentina, em 1982. Vendo que a ditadura caminhava para os estertores, Galtieri bradou "Las Malvinas son argentinas" e entrou em guerra com a Grã-Bretanha. Levou uma surra, a Argentina perdeu centenas de soldados, a ditadura ruiu, Galtieri foi condenado e passou parte dos seus últimos anos na prisão.
ALIÁS
O erro de Nicolás Maduro é achar, como Galtieri imaginou em 1982, que a comunidade internacional não reagirá a seu avanço sobre o território da Guiana. Como os Estados Unidos deram seu recado por meio de manobras militares, Maduro respondeu com a confirmação de encontro com Vladimir Putin, que já estava programado desde outubro. O petróleo sob o solo pode dar combustível a uma guerra.