No próximo domingo (22), os argentinos vão às urnas para o primeiro turno das eleições presidenciais. Cinco candidatos permanecem na disputa, após as primárias abertas realizadas em agosto:
- Javier Milei, da coligação La Libertad Avanza
- Sergio Massa, do partido Unión por la Patria
- Patricia Bullrich, da coligação Juntos por el Cambio
- Juan Schiaretti, do Hacemos por Nuestro País
- Myriam Bregman, da Frente de Izquierda y de Trabajadores – Unidad
Conheça os candidatos a presidente da Argentina nas eleições de 2023
Javier Milei
Candidato da coalização de direita La Libertad Avanza, o economista Javier Milei surpreendeu ao vencer as prévias de agosto com 30% dos votos. Ele defende a proposta de dolarização da economia argentina, que divide opiniões a respeito da viabilidade da medida entre seus colegas economistas. Milei carrega alguns rótulos, se autodefine como um “anarcocapitalista”, defensor de valores econômicos “liberais libertários”.
A ascensão meteórica, cujo DNA é a exposição prolongada em programas populares de auditório na TV argentina e o uso das redes sociais com discursos que pregam, entre outras polêmicas, o acesso às armas para a população, um governo técnico composto de apenas oito ministérios, e a criação de um mercado privado para os transplantes de órgãos são alguns itens que, ao menos no campo do marketing e dos costumes, o aproximam da direita brasileira liderada por Jair Bolsonaro, a partir de 2019.
A formação liberal do candidato tem pilares na escola de Chicago, a mesma de Paulo Guedes, o ministro da economia de Bolsonaro. Trata-se de mais um elemento de proximidade com o ex-presidente do Brasil. Mas, o fenômeno Milei tem trânsito com públicos mais diversos, dentre os quais os jovens argentinos.
“El Pelucra” como é chamado, em referência aos cabelos longos e desajustados, já foi goleiro da base do Chacarita Juniors, lendário clube argentino com fama de ter uma das torcidas mais violentas do mundo, e vocalista de banda de rock cover dos Rolling Stones. Isso o torna um “rolinga”, gíria usada para definir um fã e seguidor do grupo inglês, na Argentina.
Vida pessoal de Javier Milei
Milei já namorou a cantora Daniela Mori, autora da música “Bomba Tántrica”, em sua homenagem e em referência ao período em que o vencedor das prévias argentinas diz ter sido instrutor de sexo tântrico. Seria algo semelhante à expressão “Imbrochável”, cunhada por Bolsonaro no Brasil.
Em agosto, simultaneamente às prévias, assumiu o relacionamento de dois meses com a humorista Fátima Florez, conhecida por imitações de Cristina kirchner, a atual vice-presidente da argentina, ex-primeira dama (2003 a 2007) e ex-presidente (2007 a 2015).
No país em que o culto a Evita Perón, esposa de Juan Peron, sobrevive a passagem do tempo, há quem diga que Cristina Kirchner, um dos expoentes do peronismo no país, e alvo de críticas contundentes da extrema-direita argentina, pode voltar a posição de primeira-dama. Desta vez, na figura da humorista Fátima Florez e suas sátiras televisivas.
Uma curiosidade: El Peluca completa 53 anos de vida no dia 22, ou seja, está de aniversário na data em que acontecem as eleições gerais.
Sergio Massa
Candidato pelo partido Unión por la Patria, Sergio Massa é o representante da situação nas eleições argentinas. Ele passou a postular o cargo após a recusa de Alberto Fernández em concorrer à reeleição e das condenações por corrupção que tiraram da vice-presidente Cristina Kirchner a possibilidade de disputar as eleições.
Massa, o atual ministro da Fazenda, teve de bater o jovem Juan Grabois nas prévias de agosto, quando obteve os 21,9% dos votos que garantiram sua continuidade na disputa. Líder nas pesquisas de voto, mas seguido de perto por Milei, é a esperança da esquerda argentina para o segundo turno.
Adota tom moderado e propositivo, se autodefine como o “candidato com condições de estabelecer um governo de coalizão”. No entanto, nos debates, a cada proposta como as que envolvem a derrubada das barreiras comerciais ou os incentivos ao trabalho via isenção de tributos, se depara com ataques dos concorrentes que o responsabilizam pela atual situação do país.
Entre as críticas, as mais frequentes o acusam de pegar o país com uma inflação de 65% ao ano e levá-lo ao limite da hiperinflação, experimentada ao longo das décadas de 1970 e 1980 com pelo menos dois agravantes: quase 30% da população está, atualmente, abaixo da linha de pobreza e, dos cerca de 14 milhões de trabalhadores ativos no país, 8 milhões estão na informalidade e somente 6 milhões regularizados, gozando de direitos cada vez menores.
Ainda assim, Massa foi o escolhido de Fernández e Cristina por seu trânsito entre a esquerda e a direita no país. Defensor do equilíbrio fiscal e do superávit comercial, Massa já foi deputado e chefe de gabinete de Cristina Kirchner e prefeito da cidade de Tigre.
O início de sua atuação política remete ao período de Eduardo Duhalde, em 2002, ano em que a crise na Argentina começa a se intensificar, e ele comandava o sistema de previdência do País.
Patricia Bullrich
A líder da coligação Juntos por el Cambio tem no currículo a passagem pelo ministério da Segurança durante a gestão presidencial de Maurício Macri (entre 2015 e 2019). É dela a herança da chamada direita de Macri, conhecido empresário que antes de assumir o país havia sido presidente do Boca Juniors.
Com 16,4% dos votos nas prévias de agosto, Bullrich bateu as pretensões do prefeito de Buenos Aires Horacio Larreta. Adota um discurso agressivo ao defender pautas como a caça aos privilégios políticos e a corrupção. Alterna ataques contra Massa, a quem acusa de “pertencer às Máfias” que comandam o país e Milei, que diz “ter se associado a elas (as máfias)” em razão de grupos que se tornaram doadores de campanha.
Sem poupar adversários, promete mudar o código penal para acabar com a imputabilidade aos menores de 14 anos, para que, segundo ela “nenhum assassino ou estuprador possa andar pelas ruas”. Acusa Massa de pertencer ao Kirchnerismo, que seria a corrente defensora dos “delinquentes” e diz que Milei quer liberar as armas que acabarão caindo nas mãos de “bandidos”.
No último debate recebeu resposta de Milei que a chamou de “Motonera”, em referência ao grupo revolucionário armado da década de 1970, e insinuou que ela teria “aptidão” a instalar “bombas em jardins de infância”. O racha na direita deve culminar com um processo movido por Bullrich contra seu rival de espectro político Milei.
Juan Schiaretti
Representante do Hacemos por Nuestro País, o governador reeleito de Córdoba teve a aprovação do segundo maior colégio eleitoral da Argentina em 2019. Defende uma corrente ideológica de coalizão entre o peronismo, mas aquele que “não está corrompido pelo viés kirchnerista”, e uma série de partidos, dentre os quais, os cristãos.
Filiado ao partido Justicialista, ele teve passagem pelo exército e por setores que envolvem a receita pública, e esteve exilado no Brasil, em 1975, durante a ditadura militar argentina. Secretário da indústria e comércio de Carlos Menem, na década de 1990, nos debates, é comum vê-lo citar medidas brasileiras como soluções para problemas da Argentina.
Dentre os quais, ele destaca: a implantação de um FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para os trabalhadores da Argentina e a adoção de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) nas exportações conforme o que está em debate na reforma tributária.
Myriam Bregman
Candidata da Frente de Izquierda y de Trabajadores – Unidad, ela lidera uma coalizão de partidos socialistas que são fundamentados no trotskismo e na luta pela independência da classe trabalhadora.
Na extrema-esquerda não poupa críticas a Sergio Massa, Javier Milei e Patricia Bullrich, a quem acusa de querer mudar o código penal para permitir prisões no jardim de infância. No último debate, realizado em 8 de outrubro, protagonizou um embate com Milei, quando não podia mais solicitar direito de respostas e ouviu do candidato liberal que “se os socialistas entendessem de economia, não seriam socialistas”, em referência a uma frase de Friedrich Hayek, considerado um dos grandes economistas do século XX, agraciado com o Nobel de Economia em 1974.