![Luis Robayo / AFP Luis Robayo / AFP](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/2/9/9/2/4/8/4_f3087618f8a6249/4842992_23498c63e86cb1d.jpg?w=700)
No próximo domingo (22), os argentinos vão às urnas para o primeiro turno das eleições que definirão quem presidirá o país até 2027. Três candidatos e duas candidatas continuam na disputa, após as primárias abertas realizadas em agosto. Entre eles, está o fato novo e o elemento de desequilíbrio deste pleito.
Um destes fatores é o candidato da extrema-direita, o economista Javier Milei, que ostenta posicionamentos como a instalação de um mercado aberto para o transplante de órgãos, a desregulamentação do porte de armas e a unificação dos ministérios da saúde e da educação em pasta única.
É dele também a proposta que domina os debates: a dolarização em definitivo da economia nacional como forma de pôr fim à crise econômica que se arrasta por décadas. A pauta é considerada inviável por uns e a bala de prata, capaz de salvar o país de dias ainda piores, por outros.
Com 30% dos votos e a primeira colocação nas eleições primárias, o fenômeno Milei não lidera as pesquisas eleitorais no momento, tem 26,5% das intenções, mas já foi a surpresa das prévias. A maior preferência nas sondagens eleitorais (30,9%) é do representante da esquerda peronista, Sergio Massa (ex-ministro da Fazenda do atual presidente Alberto Fernández e da atual vice-presidente Cristina kirchner).
Patricia Bullrich (ex-ministra de Segurança da gestão presidencial de Maurício Macri, entre 2015 e 2019) tem 24,4% nas pesquisas. Mais atrás estão o governador de Córdoba (o segundo maior colégio eleitoral do país), Juan Schiaretti e a candidata da extrema esquerda, Myriam Bregman, com 10% e 2,3%, respectivamente.
Como funcionam as eleições na Argentina?
Diferente do Brasil, na Argentina, antes do primeiro turno, é realizado o chamado Paso, ou seja, as Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias. Nessa etapa, instituída em 2009, os eleitores de 17 a 70 anos são obrigados a selecionar entre os candidatos de cada coligação. Os que não atingem 1,5% dos votos ficam de fora da disputa.
Ao longo do Paso, os partidos e coligações estão autorizados a apresentar mais de uma opção. Permanece apenas a mais votada. Por essa razão, o candidato Juan Grabois, do mesmo espectro de Sergio Massa, e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, da mesma coligação de Patricia Bullrich, ficaram de fora do pleito.
Como acontece o primeiro turno?
No quarto domingo do mês de outubro é realizado o primeiro turno. Lá se chamam eleições gerais e definem também os representantes do parlamento, ou seja, os deputados e senadores.
O candidato à presidência que obtiver 40% dos votos com diferença de 10 pontos percentuais para os demais concorrentes é eleito.
Exemplo: Se Javier Milei (que teve 30% dos votos nas prévias) conseguir 40% dos votos no primeiro turno e Sergio Massa (que obteve 21,4% nas prévias) avançar aos 29,9% no primeiro turno, Milei será o novo presidente da Argentina já no próximo domingo.
Da mesma forma, é eleito, sem necessidade de segundo turno, o candidato que obtiver 45% dos votos validos.
Exemplo: Caso Milei obtenha 45% dos votos, mesmo que Massa ou Bullrich tenham 44%, Milei será o novo presidente da Argentina.
Como é o segundo turno?
Caso nenhum dos candidatos chegue a 45% dos votos ou a 40% com 10 pontos percentuais a mais do que os outros concorrentes, ocorre o segundo turno. A disputa acontece 30 dias depois do primeiro. Em 2023, se houver necessidade, está marcado para 19 de novembro. O candidato mais votado é eleito presidente do país.
Conheça os candidatos
Javier Milei
![ALEJANDRO PAGNI / AFP ALEJANDRO PAGNI / AFP](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/6/7/0/0/0/8/4_a510aad03d1ed55/4800076_b0df6e8439bd6ce.jpg?w=700)
Candidato da coalização de direita La Libertad Avanza, o economista Javier Milei surpreendeu ao vencer as prévias de agosto com 30% dos votos. Ele defende a proposta de dolarização da economia argentina, que divide opiniões a respeito da viabilidade da medida entre seus colegas economistas. Milei carrega alguns rótulos, se autodefine como um “anarcocapitalista”, defensor de valores econômicos “liberais libertários”.
A ascensão meteórica, cujo DNA é a exposição prolongada em programas populares de auditório na TV argentina e o uso das redes sociais com discursos que pregam, entre outras polêmicas, o acesso às armas para a população, um governo técnico composto de apenas oito ministérios, e a criação de um mercado privado para os transplantes de órgãos são alguns itens que, ao menos no campo do marketing e dos costumes, o aproximam da direita brasileira liderada por Jair Bolsonaro, a partir de 2019.
A formação liberal do candidato tem pilares na escola de Chicago, a mesma de Paulo Guedes, o ministro da economia de Bolsonaro. Trata-se de mais um elemento de proximidade com o ex-presidente do Brasil. Mas, o fenômeno Milei tem trânsito com públicos mais diversos, dentre os quais os jovens argentinos.
“El Pelucra” como é chamado, em referência aos cabelos longos e desajustados, já foi goleiro da base do Chacarita Juniors, lendário clube argentino com fama de ter uma das torcidas mais violentas do mundo, e vocalista de banda de rock cover dos Rolling Stones. Isso o torna um “rolinga”, gíria usada para definir um fã e seguidor do grupo inglês, na Argentina.
A EXPOSIÇÃO MIDIÁTICA NÃO PARA POR AÍ
Milei já namorou a cantora Daniela Mori, autora da música “Bomba Tántrica”, em sua homenagem e em referência ao período em que o vencedor das prévias argentinas diz ter sido instrutor de sexo tântrico. Seria algo semelhante à expressão “Imbrochável”, cunhada por Bolsonaro no Brasil.
Em agosto, simultaneamente às prévias, assumiu o relacionamento de dois meses com a humorista Fátima Florez, conhecida por imitações de Cristina kirchner, a atual vice-presidente da argentina, ex-primeira dama (2003 a 2007) e ex-presidente (2007 a 2015).
No país em que o culto a Evita Perón, esposa de Juan Peron, sobrevive a passagem do tempo, há quem diga que Cristina Kirchner, um dos expoentes do peronismo no país, e alvo de críticas contundentes da extrema-direita argentina, pode voltar a posição de primeira-dama. Desta vez, na figura da humorista Fátima Florez e suas sátiras televisivas.
Uma curiosidade: El Pelucra completa 53 anos de vida no dia 22, ou seja, está de aniversário na data em que acontecem as eleições gerais.
Sergio Massa
![Juan MABROMATA / AFP Juan MABROMATA / AFP](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/0/4/0/2/3/8/4_6b72657e31ee347/4832040_bc148c5ddd5bcba.jpg?w=700)
Candidato pelo partido Unión por la Patria, Sergio Massa é o representante da situação nas eleições argentinas. Ele passou a postular o cargo após a recusa de Alberto Fernández em concorrer à reeleição e das condenações por corrupção que tiraram da vice-presidente Cristina Kirchner a possibilidade de disputar as eleições.
Massa, o atual ministro da Fazenda, teve de bater o jovem Juan Grabois nas prévias de agosto, quando obteve os 21,9% dos votos que garantiram sua continuidade na disputa. Líder nas pesquisas de voto, mas seguido de perto por Milei, é a esperança da esquerda argentina para o segundo turno.
Adota tom moderado e propositivo, se autodefine como o “candidato com condições de estabelecer um governo de coalizão”. No entanto, nos debates, a cada proposta como as que envolvem a derrubada das barreiras comerciais ou os incentivos ao trabalho via isenção de tributos, se depara com ataques dos concorrentes que o responsabilizam pela atual situação do país.
Entre as críticas, as mais frequentes o acusam de pegar o país com uma inflação de 65% ao ano e levá-lo ao limite da hiperinflação, experimentada ao longo das décadas de 1970 e 1980 com pelo menos dois agravantes: quase 30% da população está, atualmente, abaixo da linha de pobreza e, dos cerca de 14 milhões de trabalhadores ativos no país, 8 milhões estão na informalidade e somente 6 milhões regularizados, gozando de direitos cada vez menores.
Ainda assim, Massa foi o escolhido de Fernández e Cristina por seu trânsito entre a esquerda e a direita no país. Defensor do equilíbrio fiscal e do superávit comercial, Massa já foi deputado e chefe de gabinete de Cristina Kirchner e prefeito da cidade de Tigre.
O início de sua atuação política remete ao período de Eduardo Duhalde, em 2002, ano em que a crise na Argentina começa a se intensificar, e ele comandava o sistema de previdência do País.
Patricia Bullrich
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A líder da coligação Juntos por el Cambio tem no currículo a passagem pelo ministério da Segurança durante a gestão presidencial de Maurício Macri (entre 2015 e 2019). É dela a herança da chamada direita de Macri, conhecido empresário que antes de assumir o país havia sido presidente do Boca Juniors.
Com 16,4% dos votos nas prévias de agosto, Bullrich bateu as pretensões do prefeito de Buenos Aires Horacio Larreta. Adota um discurso agressivo ao defender pautas como a caça aos privilégios políticos e a corrupção. Alterna ataques contra Massa, a quem acusa de “pertencer às Máfias” que comandam o país e Milei, que diz “ter se associado a elas (as máfias)” em razão de grupos que se tornaram doadores de campanha.
Sem poupar adversários, promete mudar o código penal para acabar com a imputabilidade aos menores de 14 anos, para que, segundo ela “nenhum assassino ou estuprador possa andar pelas ruas”. Acusa Massa de pertencer ao Kirchnerismo, que seria a corrente defensora dos “delinquentes” e diz que Milei quer liberar as armas que acabarão caindo nas mãos de “bandidos”.
No último debate recebeu resposta de Milei que a chamou de “Motonera”, em referência ao grupo revolucionário armado da década de 1970, e insinuou que ela teria “aptidão” a instalar “bombas em jardins de infância”. O racha na direita deve culminar com um processo movido por Bullrich contra seu rival de espectro político Milei.
Juan Schiaretti
Representante do Hacemos por Nuestro País, o governador reeleito de Córdoba teve a aprovação do segundo maior colégio eleitoral da Argentina em 2019. Defende uma corrente ideológica de coalizão entre o peronismo, mas aquele que “não está corrompido pelo viés kirchnerista”, e uma série de partidos, dentre os quais, os cristãos.
Filiado ao partido Justicialista, ele teve passagem pelo exército e por setores que envolvem a receita pública, e esteve exilado no Brasil, em 1975, durante a ditadura militar argentina. Secretário da indústria e comércio de Carlos Menem, na década de 1990, nos debates, é comum vê-lo citar medidas brasileiras como soluções para problemas da Argentina.
Dentre os quais, ele destaca: a implantação de um FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para os trabalhadores da Argentina e a adoção de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) nas exportações conforme o que está em debate na reforma tributária.
Myriam Bregman
Candidata da Frente de Izquierda y de Trabajadores – Unidad, ela lidera uma coalizão de partidos socialistas que são fundamentados no trotskismo e na luta pela independência da classe trabalhadora.
Na extrema-esquerda não poupa críticas a Sergio Massa, Javier Milei e Patricia Bullrich a quem acusa de querer mudar o código penal para permitir prisões no jardim de infância. No último debate, realizado em 8 de outrubro protagonizou um embate com Milei, quando não podia mais solicitar direito de respostas e ouviu do candidato liberal que “se os socialistas entendessem de economia, não seriam socialistas”, em referência a uma frase de Friedrich Hayek, considerado um dos grandes economistas do século XX, agraciado com o Nobel de Economia em 1974.