Com a rejeição, na quinta-feira (25), das condições apresentadas pelo novo-ministro britânico Boris Johnson para um novo acordo de saída de seu país da União Europeia (UE), existem ao menos três possibilidades a serem traçadas diante do atual cenário do Brexit.
Os termos propostos por Johnson vieram na esteira das constantes derrotas da proposta de separação: 29 de março de 2019 marca a data em que o parlamento britânico impôs o terceiro revés ao texto de Theresa May.
O recém-empossado premiê argumentou que os detalhes do texto "são inaceitáveis para este parlamento e este país", em discurso aos deputados britânicos após assumir o cargo, na quarta-feira (24).
Entretanto, "inaceitável" também foi a palavra utilizada pelo negociador da UE, Michel Barnier, para responder aos novos termos propostos por Johnson.
— Uma falta de acordo nunca será a opção da UE, mas todos devemos estar preparados para todos os cenários — acrescentou Barnier.
O dirigente conservador havia reivindicado, em particular, a "abolição da salvaguarda" irlandesa, destinada a evitar a reimposição de controles na fronteira para a Irlanda do Norte e a República da Irlanda após o Brexit.
Entretanto, o titular da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reiterou em seu primeiro debate com Johnson que o acordo concluído em novembro é o "melhor e único" pacto possível.
Diante do impasse, veja, abaixo, o que pode acontecer com o acordo de separação:
UE cede a Boris Johnson
A primeira perspectiva constitui na possibilidade dos líderes da UE aceitarem um novo acordo de retirada sem o "backstop", mecanismo destinado a impedir o retorno dos controles na fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda após o Brexit.
O cenário — que evitaria consequências econômicas de um divórcio abrupto — parece improvável, uma vez que esses líderes já reafirmaram que não pretendem abrir novamente o acordo. Além disso, ao fazer muitas concessões ao Reino Unido, o bloco também arriscaria estabelecer um precedente que poderia atrair outros eurocéticos no continente, o que deveria ser evitado.
Brexit sem acordo
Outra possibilidade é de nenhum dos lados conseguir chegar a um acordo. Nesse caso, o Reino Unido deixa a UE de maneira abruta, através do "no deal" (sem acordo, em inglês).
O novo primeiro-ministro britânico afirmou que está pronto para o cenário: ele defende que quer deixar a UE a qualquer custo em 31 de outubro. Boris Johnson, inclusive, pediu a Michael Gove — seu braço direito no governo — que faça da preparação do "no deal" sua prioridade máxima.
— O Reino Unido está melhor preparado para essa situação do que muitos pensam — garantiu Johnson.
Entretanto, o parlamento britânico é mais hostil a uma saída sem acordo. Para atingir esse resultado, o premiê pode optar por suspender a assembleia, impedindo os deputados de se pronunciarem. Contudo, a iniciativa poderia gerar uma crise política.
Nesse caso, também surge a questão do pagamento de 39 bilhões de libras que Londres deve pagar para a UE a fim de liquidar compromissos com parceiros no momento da saída. De acordo com Johnson, a quantia estaria "disponível" para "ajudar a gerenciar possíveis consequências" relacionadas a essa súbita saída.
Segundo referendo ou eleições antecipadas
O último cenário se dá através da principal sigla da oposição. O chefe do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, quer que os britânicos possam pronunciar-se no âmbito de uma votação pública sobre o Brexit ou em eleições parlamentares antecipadas. Isso poderia ser organizado após ser votada uma moção de desconfiança contra o governo, a qual seria apresentada pelo Partido Trabalhista.
A legenda, no entanto, afirma que espera pelo momento certo para fazê-lo. O recesso parlamentar começou na quinta-feira (25) à noite, e a oposição só poderá iniciar o movimento no início de setembro.
Além disso, eleições também poderiam ser convocadas por Boris Johnson, na esperança de fortalecer sua maioria — a qual, atualmente, possui apenas dois votos.
John Curtice, professor de política na Universidade de Strathclyde, estima, no entanto, que seria um "erro terrível" convocar tais eleições. A análise, publicada no site do The Telegraph, ressalta que os conservadores têm apenas 25% das intenções de voto, conforme com pesquisas recentes.