Em junho de 2016, 52% dos britânicos votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE), bloco que reúne 28 países do continente. Quase três anos após a votação, esse processo — conhecido como Brexit — ainda não foi concluído, e as dúvidas sobre sua viabilidade persistem.
O último prazo acordado para a saída é 31 de outubro, mas ele já foi adiado algumas vezes.
A União Europeia funciona como um espaço de livre comércio, de livre circulação de pessoas (embora o Reino Unido controle suas fronteiras de modo separado) e de criação de leis e normas que valem para todos os membros. Os legisladores britânicos e europeus enfrentam dificuldades para definir como ficariam essas regras após a separação.
Um dos pontos mais polêmicos é se o Reino Unido manterá parte das regras atuais de comércio com o bloco, por meio de uma união aduaneira. Críticos da proposta dizem que isso pode impedir o país de buscar acordos comerciais por conta própria, uma das expectativas trazidas pela ideia do Brexit.
Outro ponto delicado é a fronteira entre as Irlandas. Hoje, há circulação livre entre a República da Irlanda (membro da UE) e a Irlanda do Norte (parte do Reino Unido). Com o Brexit, essa fronteira poderia ser retomada.
RELEMBRE OS EPISÓDIOS DO BREXIT
Janeiro de 2013
O então primeiro-ministro David Cameron anuncia a intenção de convocar uma consulta popular sobre a filiação do Reino Unido à União Europeia, ocorrida em janeiro de 1973. É um aceno à ala do Partido Conservador que desejava a separação — o líder estava convicto de que o apoio à ideia é minoritário.
Junho de 2016
No plebiscito, o "leave" (sair) surpreende e consegue 52% dos votos, contra 48% do "remain" (permanecer). Cameron, que fizera campanha pela segunda opção, renuncia no dia seguinte à votação.
Julho de 2016
Até então ministra do Interior, a "remainer" moderada Theresa May ascende à liderança conservadora e, por extensão, ao cargo de primeira-ministra.
Março de 2017
May aciona o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que rege o desligamento de países-membros da UE. Inicia-se a contagem regressiva de dois anos para o Dia D do Brexit.
Junho de 2017
Depois de convocar eleições antecipadas com o intuito de ampliar sua maioria no Parlamento e se fortalecer na negociação do Brexit, a premiê leva uma rasteira: sua base diminui e ela passa a depender do Partido Unionista Democrático, pequena legenda norte-irlandesa, mas ruidosamente anti-UE.
Julho de 2018
O primeiro plano de May para a saída do bloco é considerado dócil demais por vários de seus ministros, que abandonam o governo.
Novembro de 2018
A líder conservadora anuncia ter chegado a um acordo com os europeus. No fim do mês, presidentes e primeiros-ministros do continente aprovam o pacto de saída.
Dezembro de 2018
Diante de uma derrota iminente no Parlamento, o Executivo retira abruptamente o acordo da pauta. Dois dias depois, May passa por uma moção de desconfiança em seu próprio partido.
Janeiro de 2019
No maior revés para um governo britânico na era moderna, os deputados rejeitam o projeto por uma diferença de 230 votos. O Partido Trabalhista, principal força de oposição, vê uma oportunidade para derrubar May e, quiçá, forçar uma eleição geral, mas os conservadores brecam o movimento.
Março de 2019
Sem conseguir arrancar da UE mudanças significativas no acordo, a premiê o submete novamente à Câmara dos Comuns. A derrota desta vez é por 149 votos. Em 29 de março, o Dia D, uma terceira consulta termina em novo revés, agora por uma diferença de 59 votos.
Abril de 2019
Depois de falhar em cumprir a condição fixada pelo bloco para um adiamento da saída até 22 de maio — aprovar o acordo no Parlamento até 29 de março —, foi combinado um novo prazo: 31 de outubro de 2019.
Maio de 2019
May anuncia que renunciará em 7 de junho, após uma nova proposta, que abria a possibilidade de um segundo referendo sobre o Brexit, ser mal recebida por seus aliados. O Reino Unido também participou da eleição para o Parlamento Europeu, uma das entidades da UE, da qual o país tenta se separar.
PROTAGONISTAS DO BREXIT
David Cameron, o fujão
O primeiro-ministro que bancou a realização de um plebiscito sobre a saída britânica da Europa renunciou no dia seguinte à consulta, estupefato com a vitória do "leave".
Boris Johnson, o reticente
O ex-prefeito de Londres foi um dos pontas de lança da campanha pelo adeus à UE, mas, contrariando expectativas, declinou da disputa pela liderança do Partido Conservador após a saída de Cameron. Dois anos depois, renunciou ao posto de chanceler por discordar da condução do Brexit por May. Agora, é dos mais ávidos por sucedê-la.
Theresa May, ou "Maybe"
Ex-ministra do Interior, a chefe de governo foi criticada pela incapacidade de decidir e por ter cedido demais à agenda da ala mais radical de seu partido, que deseja uma ruptura nítida com a Europa. Sua cota está tão baixa que, mesmo tendo anunciado que deixaria o cargo tão logo o acordo de "divórcio" fosse aprovado, não conseguiu convencer os deputados a ratificá-lo. Anunciou que renunciará no início de junho.
Jeremy Corbyn, o indeciso
O líder da oposição é pressionado há meses por correligionários a declarar apoio a um novo plebiscito, como definido na convenção de seu Partido Trabalhista. Porém, sustenta que uma reedição da votação de 2016 seria uma traição à vontade popular expressa três anos atrás
Jean-Claude Juncker e Donald Tusk, os exasperados
São, respectivamente, os presidentes da Comissão Europeia (braço executivo da UE) e do Conselho Europeu (colegiado de chefes de Estado e de governo do bloco). Estão na linha de frente das conversas com Londres.