Era praticamente rotina nos primeiros meses de 2023 em Porto Alegre: sinaleiras desligadas e longos congestionamentos que desafiavam a paciência dos motoristas. Por trás dos transtornos, o furto de fios de cobre, crime que disparou em todo o Brasil no período pós-pandemia em razão da valorização do metal no mercado internacional que atraía desde usuários de drogas às organizações criminosas em busca de um lucro fácil, conforme revelou o Grupo de Investigação da RBS (GDI) em abril.
Apesar de, no acumulado do ano, os dados ainda apresentarem aumento em comparação aos períodos anteriores, dentro de 2023 as ocorrências caíram. Em março, por exemplo, foram 85 casos de furtos e vandalismos nas sinaleiras, responsáveis por sumirem com quase 5 mil metros de cabos e prejuízo de R$ 21 mil. Já em setembro, foram apenas seis casos. Até o dia 17 de outubro, conforme dado mais recente divulgado pela Secretaria Municipal de Segurança de Porto Alegre, foram dois.
— Nosso maior desafio em Porto Alegre era sobre o furto de fios. E quando a gente fala em furto de fios, nós não falamos só dos 10 metros levados. Falamos de uma comunidade que ficou sem água um fim de semana inteiro porque indivíduos levaram 10 metros de fio, no dia mais quente de fevereiro. Não é apenas o fio, mas sim o bem-estar da comunidade — avaliou o secretário municipal de Segurança, Alexandre Aragon
A estratégia para os ladrões passou por duas medidas, segundo as forças de segurança: a primeira foi substituir o material de parte dos cabos. No lugar do cobre, alumínio, metal com menos eficiência para condução elétrica, mas com menor valor. A outra foi endurecer, por meio de projetos de lei, a fiscalização dos ferros-velhos, que muitas vezes se tornam o destino dos materiais furtados.
— Antigamente nós interditávamos o local de receptação e, dois dias depois, reabria em nome de laranja. Hoje não tem mais como acontecer — afirma Aragon.
A lei mais recente aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada pela prefeitura de Porto Alegre prevê a instalação de câmeras de monitoramento nos desmanches e ferros-velhos da Capital. Em caso de descumprimento, a lei estabelece inicialmente multa de 1,5 UFMs (Unidades Financeiras Municipais) — o equivalente a R$ 7,8 mil. Em caso de reincidência, poderá ocorrer a cassação do alvará de funcionamento.
Em outubro, 31 estabelecimentos foram notificados e receberam prazo de um mês para instalação dos equipamentos. Ao longo do ano, 28 locais foram fechados e 50 autuados por irregularidades diversas. Também foram detidas 36 pessoas pela Guarda Municipal.
Foco nos receptadores
Em nível estadual, as polícias apertaram o cerco nos receptadores, não apenas ferros-velhos, mas também indústrias que eram responsáveis por processar esse cobre e recolocá-lo no mercado. Em geral, são locais que não compram diretamente dos criminosos.
Até o momento, foram 11 ações da Operação Fios e Cabos, força-tarefa criada pela Secretaria da Segurança Pública para coibir este tipo de crime. Cerca de 8,5 toneladas de fios, cabos e outros materiais foram apreendidos e 15 pessoas presas, além de outras 13 que assinaram termos circunstanciados por crimes ambientais.
— A inteligência nos aparelhou para ver os locais e intensificar as operações, fiscalizando quem comprava o material. Dá para dizer que a redução desses índices que se observa no segundo, terceiro trimestre desse ano estão ligadas ao aumento de operações e fiscalizações das vinculadas —avaliou o major Jeferson Eroni, coordenador da Operação Fios e Cabos.
Em números absolutos, que não consideram volume, mas sim o número de ocorrências, os meses de fevereiro e março registraram a maior quantidade de furtos – 520 e 553 respectivamente. O total diminuiu em junho, mas voltou a crescer nos meses seguintes.
— Se a legislação responsabilizar quem compra esse material sem procedência, com certeza vai reduzir o índice ainda mais. Onde houver legislação, o número vai cair — observou o oficial.
CEEE Equatorial teve prejuízo de R$ 2,4 milhões até agosto
A CEEE Equatorial é uma das principais vítimas dos furtos no Rio Grande do Sul. Neste ano, o prejuízo é estimado em R$ 2,4 milhões até agosto, com 38 toneladas levadas. O dado não leva em conta casos de roubos, como o que aconteceu em janeiro, quando duas toneladas de cabos em bobinas foram levadas de dentro do Centro de Distribuição da empresa.
Na Capital, há uma sequência de furtos menores — cerca de 30 a 40 metros por vez. Nas 788 ocorrências do ano em Porto Alegre, segundo dados da CEEE Equatorial, 890 mil consumidores ficaram sem energia elétrica. Já no Litoral Norte e Região Sul, são de dois a três quilômetros de cabos subtraídos por ação.
Neste ano, foram ao todo 38 toneladas levadas, sendo Porto Alegre, Tramandaí, Capão da Canoa e Rio Grande as cidades mais afetadas.