Reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) mostrou que escolas da rede municipal de Porto Alegre acumulam, em seus corredores, caixas de livros e equipamentos eletrônicos comprados com dinheiro público, mas sem uso. GZH esteve em oito colégios e em galpões de patrimônio e almoxarifado da Secretaria Municipal de Educação (Smed) e localizou milhares de publicações guardadas precariamente, além de mais de mil chromebooks e kits pedagógicos sem uso.
O desperdício do dinheiro público também fica evidenciado por impressoras alugadas pela Smed esquecidas em locais improvisados e aparelhos novos de cozinha industrial e de ar-condicionado que não podem ser utilizados porque as redes elétricas das escolas não suportam a potência dos equipamentos.
Em agosto de 2022, a pasta assinou um contrato — válido por um ano — que prevê gastos de até R$ 599,7 mil pelo aluguel e pela manutenção de impressoras. A contratada para prestar os serviços, via pregão eletrônico, foi a Selbetti Tecnologia S.A.
O sistema de Transparência da prefeitura chegou a conter empenhos, etapa em que os pagamentos estão apenas programados, no valor de mais de R$ 380 mil em favor da Selbetti por serviços à Smed. Contudo, após visitas de parlamentares e do GDI a escolas, as previsões de pagamento saíram do ar.
Há dezenas de equipamentos parados na rede municipal. Pelo menos três impressoras da marca Ricoh foram localizadas sem uso na Porto Novo (no Rubem Berta), na Saint Hilaire (Lomba do Pinheiro) e em escola de Educação Infantil da Zona Norte. Na Saint Hilaire, a caixa com o equipamento está junto a assentos e tampas de vaso sanitário e de acessórios como baldes de limpeza. Na Porto Novo, atravanca um canto da secretaria.
Dirigentes escolares dizem que as impressoras estão nessa situação porque a Smed e a Selbetti não providenciaram as instalações e conexões à rede de informática do município. Na manhã desta terça-feira (6), a direção da Smed, sem detalhes, disse "ter a informação" que o aluguel dos aparelhos não está sendo pago à Selbetti enquanto eles estiverem fora de uso.
Uma cozinha inteira parada
Em uma unidade de Educação Infantil na Zona Norte, uma cozinha completa está inutilizada porque a Smed comprou e enviou equipamentos cuja potência não é suportada pela rede elétrica do imóvel. Estão embaladas, em meio ao local de refeição de crianças, uma geladeira industrial de grandes proporções e um bufê.
A rede elétrica, que não suporta o funcionamento dos aparelhos, teria de ser reformada ao custo de R$ 18 mil, valor que a escola não tem. O fogão novo enviado é menor do que o usado atualmente pelas cozinheiras, o que levou à opção de deixá-lo guardado.
No refeitório da Escola Municipal Alberto Pasqualini, um bufê novo e sem uso segue embalado como chegou, já que o existente no colégio funciona perfeitamente.