Por Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados)
Com o mercado interno aquecido, com crescimento do nível de renda das famílias e queda do desemprego, comemoramos o incremento das vendas no varejo. Entre janeiro e novembro de 2024, dado mais recente, o consumo de calçados no mercado brasileiro aumentou 9%. Quando falamos de balança comercial, o quadro muda bruscamente.
No ano passado, dados elaborados pela Abicalçados apontam que as exportações de calçados somaram 97,4 milhões de pares, 18% menos do que em 2023. Já as importações do mesmo intervalo somaram 36 milhões de pares, incremento de 26% em relação ao ano anterior.
Gera ainda mais preocupação no setor calçadista brasileiro a possibilidade de criação de um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a China, o que tornaria a nossa indústria ainda mais vulnerável
A queda nas exportações já era esperada, visto a instabilidade do mercado internacional e sobretudo o avanço asiático sobre os nossos principais mercados. Já o crescimento das importações, sobretudo da Ásia, segue preocupando as fabricantes brasileiras e colocando em xeque a recuperação do setor. Respondendo por cerca de 80% dos calçados que entram no Brasil, os países asiáticos seguem puxando as importações para cima.
Gera ainda mais preocupação no setor calçadista brasileiro a possibilidade de criação de um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a China, o que tornaria a nossa indústria ainda mais vulnerável diante de calçados com preços ínfimos que entrariam no Brasil sem pagar qualquer imposto ou sobretaxa. Você, leitor(a), consegue imaginar a situação para as fabricantes locais? Como concorrer com o mínimo de equidade com um produto que entra no Brasil a um preço médio de US$ 4, ao custo de uma mão de obra precária e com poucos direitos trabalhistas, já que a China tem baixíssima ratificação de convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT)? Baixo nível de produção sustentável? Ora, simplesmente seríamos — ainda mais — inundados de produtos chineses baratos e de baixa qualidade, o que inviabilizaria a sobrevivência da indústria calçadista e de seus quase 300 mil empregos diretos gerados no Brasil.