A diretora da Escola Infantil Anjos e Marmanjos, no bairro Rio Branco, em Canoas, reconheceu, em depoimento à polícia, como sendo de uma professora de uma turma do Jardim a voz que foi registrada em áudios e que demonstram supostos maus-tratos e ameaças contra alunos.
As gravações foram reveladas em reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) e foram compartilhadas com a Polícia Civil e com o Ministério Público.
Durante duas horas a diretora Letícia Ferreira prestou depoimento na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Canoas. Ela reconheceu a voz que está registrada em áudios gravados por vizinhos da escola e pelo GDI. Disse ser de uma professora que atua há cinco anos na escola e dá aulas para uma turma de Jardim, composta por crianças de cinco anos de idade.
A reportagem revelou frases ríspidas e ameaças da professora ao se dirigir a alunos: "Cala a tua boca e come" e "Vou te cortar tua mão, te juro". Era possível ouvir as conversas quando as crianças estavam no refeitório, que fica nos fundos da escola, em um pedaço de pátio coberto. Depois que o GDI mostrou as gravações à direção da escola, na terça-feira (3), a professora foi afastada por 10 dias.
Segundo Letícia disse à polícia, nunca houve queixa formal contra a professora, a não ser um episódio no ano passado em que um aluno ficou poucos dias na escola e foi tirado pelos pais sob a alegação de que não gostavam do tratamento dado pela professora.
A diretora também referiu o episódio relacionado a uma aluna negra, cujo nome inclusive aparece na gravação. Na conversa gravada por vizinhos em 2021, a professora fala com outra colega:
— Eu vou deixar aqui, vou mandar ela vim buscar. Eu tenho nojo daquela nega nojenta.
A outra mulher pergunta:
— Quem é?
A professora responde:
— A Luiza.
A colega se surpreende:
— Capaz!
Ela finaliza:
— Eu tenho nojo dela, ela é debochada, nojenta, asquerosa, ela fica te olhando, te tirando. Vou fazer ela vim buscar a máscara dela.
Consta no depoimento que teria havido problemas com essa aluna e que ela já saiu da escola. O delegado Pablo Rocha, que conduz a investigação, quer identificar a aluna e a família para apurar o que ocorreu. Por conta do teor da conversa, a professora é investigada também por injúria racial.
Letícia reforçou no depoimento o que ela e a coordenadora da escola, Josiane Silva, haviam informado ao GDI: que a escola tem protocolos de como as funcionárias devem lidar com as crianças, sendo vedados gritos e o uso de determinadas expressões. A diretora afirmou ainda que nunca ouviu gritos desta professora.
O delegado pretende ouvir funcionários da parte administrativa, professoras, a professora suspeita e que está afastada e pais de alunos. Ele também solicitou a entrega de imagens do circuito interno de câmeras de segurança. O sistema, no entanto, não capta áudios.