Uma comitiva de cinco ministros desembarca no Rio Grande do Sul na próxima quinta-feira (23) para ver de perto os efeitos da estiagem no Estado. Hulha Negra, na região da Campanha, servirá de amostra para elucidar ao governo federal a gravidade da situação. O município e a região estão entre os mais castigados pela falta de chuva.
A equipe será composta pelos ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, além de Edgar Pretto, indicado para assumir a presidência da Conab.
A expectativa é de que, durante a viagem, sejam anunciadas medidas de auxílio aos atingidos pela seca, entre elas, uma linha de crédito emergencial para pequenos e médios produtores. No início de fevereiro, o caminho inverso foi feito por uma comitiva gaúcha, que viajou a Brasília para cobrar atenção especial ao Estado.
Distante cerca de 30 quilômetros de Bagé, que convive com o problema recorrente de racionamento de água, Hulha Negra também enfrenta, neste verão, dificuldades de abastecimento tanto para consumo humano e animal quanto para manutenção das lavouras.
O município decretou situação de emergência pela estiagem em janeiro, solicitação já homologada pelo governo do Estado e reconhecida pela União. Mas a falta de chuva preocupa desde dezembro, e a entrega de água potável a bairros mais afastados tem sido feita por caminhões-pipa da prefeitura. A capacidade reduzida dos açudes é insuficiente para manter o consumo e a irrigação.
As perdas mais significativas são registradas nas culturas de soja e milho, ambas fundamentais para a economia do município. Também há comprometimento da produção de mel e prejuízos na pecuária de leite. Os impactos atingem pelo menos 1,2 mil propriedades rurais, sendo que mais de 800 são pequenas propriedades em assentamentos. Segundo a prefeitura, algumas perdas são consideradas irreversíveis diante do agravamento da estiagem.
Dados contabilizados pela Emater e divulgados pela administração municipal estimam prejuízo perto de R$ 5 milhões na pecuária de leite e de corte. Somados os danos nas lavouras, o impacto econômico ultrapassa R$ 38 milhões. Somente na soja, as perdas já alcançam 40% na produção de Hulha Negra, segundo boletim da Emater.
O caso de Hulha Negra é apenas um recorte do quadro geral da seca no Estado. Até a tarde desta segunda-feira (20), 313 municípios haviam decretado emergência. Conforme levantamento mais recente da Rede Técnica de Cooperativas (RTC), divulgado na semana passada, as perdas na soja chegam a uma média de 43% no Rio Grande do Sul. No milho, o percentual sobe para 56%. A pesquisa considera dados de 21 cooperativas associadas à Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS).
Em termos financeiros, as perdas representam outro baque para o setor, repetindo a quebra do ano passado. A estimativa da entidade é de que R$ 28,3 bilhões deixem de circular na economia gaúcha com essa dimensão de perdas.