As 50 estações que compõem o Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro) do Estado trazem em números a percepção que ficou da chuva registrada nos últimos dias no Rio Grande do Sul. Os totais verificados em 48 horas variaram entre 25 e 40 milímetros, aponta o meteorologista Flávio Varone, coordenador do sistema da Secretaria da Agricultura. Na unidade que fica em Eldorado do Sul, foram 96 mm no intervalo de dois dias, diante de um total previsto para o mês de 123 mm.
A questão é que em pontos como a Fronteira Oeste o volume foi inferior a 15 milímetros.
— Não foi uma pancadona total de chuva. Nessas áreas onde o volume passou de 40, 50 mm e durou horas, as lavouras devem ser beneficiadas — pondera Varone.
A dose, no entanto, não foi uniforme no Estado. Além disso, a essa altura, o potencial produtivo traz consigo o impacto da condição climática.
— Onde há repetição de chuva, pode haver um potencial maior, mas é de 30, 35 sacas, no máximo. As chuvas estão ajudando mesmo esses lugares que estão com condições melhores e o milho safrinha — reforça Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS).
Levantamento da Rede Técnica de Cooperativas (RTC) divulgado nesta quinta-feira (16) revela que, nas 21 associadas onde foi feita a pesquisa, a soja chega a uma perda média de 43% em relação ao que se esperava no início do ciclo. No milho, o percentual sobe para 56%.
Mas as variações são grandes. Geomar Corassa, gerente de pesquisa da CCGL e coordenador da RTC, explica que há áreas com projeção de 20 sacas de soja por hectare e outras com 50 sacas. No primeiro levantamento da RTC, em novembro, estimava-se 58,2 sacas por hectare.
— Estamos em 16 de fevereiro, a maior parte da soja está em estágio reprodutivo. E na Fronteira Oeste as temperaturas máximas têm ficado em 40°C. Fisiologicamente, a planta não consegue produzir — observa Corassa.
Acompanhamento semanal da Emater aponta que 77% da área cultivada com soja no RS está nas fases de floração e enchimento de grãos, quando a água é crucial para o desenvolvimento.
Nos próximos dias, nova chuva deve cair no RS. E na segunda e terça da próxima semana, ainda se esperam precipitações para o norte do Estado, onde a situação tem sido mais favorável dentro do atual quadro estiagem.
Os prognósticos indicam que o La Niña está se encaminhando para o fim, mas a normalidade de chuva, explica Varone, tende a chegar a partir de abril.