Pelo terceiro ano consecutivo, a cultura do milho sofre com o impacto da falta de chuva no Rio Grande do Sul. Levantamento feito pela Rede Técnica de Cooperativas (RTC/CCGL) e divulgado nesta terça-feira (20), mostra que já existem perdas médias de 42% em relação ao que se esperava colher no início do ciclo nas lavouras de sequeiro (ou seja, sem sistema de irrigação). Os dados refletem a realidade de 20 associadas e mostram ainda que há regiões onde a colheita terá redução acima de 70%, em razão da combinação de altas temperaturas e ausência de chuva sobretudo nos meses de novembro e dezembro.
— A grande dificuldade foi não ter ocorrido chuva uniforme e bem distribuída. O milho está nesse cenário mais ou menos estabelecido. Já tem prejuízos consolidados, que podem aumentar — completa Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater.
Ele reforça que há perdas acentuadas em pontos do RS (que podem ser propriedades, municípios), mas não de forma generalizada. Os impactos, complementa, concentram-se no Noroeste e Norte, em lavouras que estão na fase de florescimento e enchimento de grãos, quando a umidade é crucial para o potencial produtivo.
Na área de atuação da Coopatrigo, com sede em São Luiz Gonzaga, nas Missões, o milho de sequeiro contabiliza redução de 70% frente ao que se esperava colher no início da safra, uma média entre 130 e 140 sacas. Nas áreas irrigadas, o impacto existe, mas em proporção bem menor: 12%, garantindo ainda uma produtividade de 180 sacas.
— A única forma de aumentar a oferta de milho para a indústria de carnes é por meio da irrigação. Hoje a lavoura do grão está muito cara para perder. Aqui, o milho sequeiro está indo para a extinção — diz Paulo Pires, presidente da cooperativa e da Fecoagro-RS, em relação ao investimento em rrigação.
Segundo o dirigente, quase metade da área cultivada pelos associados com a cultura conta com o sistema, uma condição "que revolucionou a agricultura da região".
E se no milho os prejuízos se confirmam, na soja é o futuro que preocupa. O relatório da RTC/CCGL destaca que 11% da área das cooperativas ainda não foi semeada e da que foi, 15% não emergiu. "Este panorama também é um reflexo da falta de chuvas, que resulta em umidade do solo inadequada para a semeadura, estabelecimento e desenvolvimento da cultura".