Teori Albino Zavascki ganhou com a relatoria dos processos da Operação Lava-Jato notoriedade que não lhe envaidecia. Sóbrio, de poucas palavras e considerado um jurista técnico, mantinha rotina oposta à repercussão dos casos que passavam por seu gabinete no Supremo Tribunal Federal (STF). Aos 68 anos, o discreto magistrado morreu de forma trágica no momento em que estava prestes a tomar a decisão mais delicada da carreira: a homologação das delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht.
Auxiliares de Teori mantiveram os trabalhos em janeiro, período de recesso do Judiciário, para agilizar a análise das colaborações pelo ministro, que se preparava para encerrar as férias. Indicado ao STF pela então presidente Dilma Rousseff em setembro de 2012, ele tomou posse em novembro do mesmo ano. Foram quase quatro anos e dois meses em uma das 11 cadeiras da mais alta Corte do país. Período de decisões que suscitaram aplausos e críticas.
– Foi um dos melhores ministros que o Supremo teve. Técnico, firme, não se assustava. É difícil acreditar (na morte) – afirma o amigo Gilson Dipp, colega no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
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Natural de Faxinal dos Guedes, no oeste catarinense, Teori nasceu em 15 de agosto de 1948 e iniciou a carreira jurídica no Rio Grande do Sul. Filho do casal de agricultores Severino e Pia Maria, cresceu em uma família com seis irmãos. Na infância, gostava de fazer armadilhas para pegar pássaros, madrugava para ir à missa e tinha uma memória que chamava atenção dos professores. Já trajado com toga do STF, ia todos os anos à cidade natal visitar a mãe, que faleceu em junho de 2016, aos 101 anos. Sete meses depois, o filho partiu no acidente aéreo. Viúvo do segundo casamento, Teori deixou três filhos.
Formação, amizades e amor pelo Grêmio no RS
O catarinense era descrito como um homem leal. Em Brasília, sujeito caseiro e avesso aos restaurantes frequentados pelo jet-set da República, que inclui colegas de tribunal, tinha um círculo restrito de amigos, composto pelos juristas Eduardo Ferrão, Nelson Jobim, Luiz Carlos Madeira e Dipp. Ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Madeira ofereceu, ao lado de Paulo Odone, uma das primeiras oportunidades de trabalho ao ministro.
Ele foi estagiário no escritório dos amigos, quando ainda cursava Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Concluiu o curso em 1972, depois fez mestrado e doutorado em processo civil e se tornou professor da instituição federal. Na carreira de advogado, ainda trabalhou no Banco Central e foi superintendente jurídico do antigo Banco Meridional.
Teori criou relação próxima com Madeira e Odone, fortalecida pelo amor ao Grêmio. Como ia seguido a Porto Alegre, onde moram os filhos e tinha apartamento, gostava de assar churrasco, assistir aos jogos do clube e sair para jantar. Ex-conselheiro tricolor, o ministro quebrava o semblante fechado nas sessões do STF quando ouvia perguntas sobre o time do coração. Na véspera da final da Copa do Brasil, chegou ao plenário de gravata azul celeste.
Postura austera blindava contra pressões do ofício
A carreira de magistrado teve início em 1989, no Tribunal Regional Federal da 4º Região. Depois de desembargador, tomou posse no STJ em 2003, após indicação do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Brasília, adquiriu a fama de independente e sóbrio, características que preencheram o perfil exigido por Dilma. Teori desembarcou no Supremo em momento polêmico. Sua indicação saiu em meio ao julgamento do mensalão, em razão da aposentadoria de Cezar Peluso. Participou da análise dos recursos do caso. Na Corte, aproximou-se de Edson Fachin, Luiz Fux e Rosa Weber e não entrou no circuito de jantares e recepções ofertados em Brasília.
Brincalhão em casa, Teori reclamava da fama de sisudo, mas sabia que sua postura ajudava a blindá-lo das pressões exercidas por poderosos envolvidos na Lava-Jato, operação da qual se tornou relator, ganhando posição de destaque no país. Na função, autorizou investigações contra dezenas de políticos de diferentes partidos, as buscas na residência oficial de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o afastamento do parlamentar da presidência da Câmara. Também deu aval à prisão do então senador, depois cassado, Delcídio Amaral (sem partido-MS), decisão que lhe rendeu palmas ao entrar em um restaurante do litoral catarinense, semanas depois. O reconhecimento não lhe arrancou um sorriso.
– Hoje, sou aplaudido, amanhã serei vaiado – disse.
Os protestos vieram quando determinou que o juiz Sergio Moro enviasse ao STF as investigações contra o ex-presidente Lula, no episódio da conversa gravada entre ele e Dilma. Era com essa postura, distante da briga política e livre de deslumbramentos, que Teori avaliaria as delações da Odebrecht, cujo futuro, agora, é uma incógnita.