Representantes do poder público estão mobilizados para construir um túnel imerso entre Itajaí e Navegantes, no litoral norte de Santa Catarina.
O projeto da estrutura subaquática está em fase de estudos e prevê investimento superior a R$ 1 bilhão na via, valor que pode dobrar se consideradas obras para melhorar a mobilidade urbana na região e que fazem parte do plano. A previsão é que as obras comecem em 2026 e o trecho esteja liberado em 2029.
O país não tem túneis do gênero. Além do projeto catarinense, há uma iniciativa similar, planejada para ser instalada entre Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo, mas que ainda não teve obras iniciadas.
O empreendimento em Santa Catarina é fruto do Projeto de Mobilidade Integrada da Foz do Rio Itajaí (Promobis), que envolve 11 municípios.
Como é o projeto
O túnel terá 548 metros de extensão e 29 metros de profundidade no Rio Itajaí-Açu, que separa os dois municípios. Estão previstas faixas exclusivas para veículos, ciclistas e pedestres. As duas cidades somam 347 mil habitantes e a conexão entre elas é feita por balsas – para pessoas e veículos de pequeno porte.
— Esse é o grande entrave da mobilidade na nossa região. Temos o aeroporto e o porto de Navegantes de um lado do rio e, do outro, o porto de Itajaí e municípios turísticos como Balneário Camboriú, Itapema e Bombinhas. Pela BR-101, a conexão hoje dá 20 quilômetros; com o túnel ficaria em poucos metros — afirma João Luiz Demantova, responsável técnico pelo Promobis.
Por que construir um túnel
A ideia inicial para resolver o problema da ligação entre as cidades era construir uma ponte. No entanto, a estrutura precisaria ter 65 metros de altura para comportar o fluxo de navios do porto de Itajaí, um dos principais do país. Pontes menores e móveis foram analisadas.
— Estudamos vários modelos de pontes e vimos que o custo se aproximava do valor da construção de um túnel. Também observamos que as principais regiões do mundo com portos optam por túneis para não inviabilizar o crescimento da atividade portuária — acrescenta Demantova.
Segundo ele, o túnel imerso terá partes pré-moldadas ancoradas sobre o leito do rio a uma profundidade de 29 metros, a fim de garantir um calado livre para navegação de 13 metros. Não será preciso escavar o curso d'água para a construção.
— Obras feitas no subsolo causam menos impactos ambientais, poluição visual e sonora do que uma ponte. Um túnel é um processo mais complexo, mas tem uma velocidade de implantação mais rápida — garante.
Análises serão feitas neste ano para medir o impacto ambiental da obra. As entradas e saídas serão no bairro Imaruí, em Itajaí, e no bairro São Domingos, em Navegantes. O local, no entanto, poderá ser alterado se estudos para a instalação indicarem outro ponto com melhores condições.
Origem do recurso
O túnel imerso prevê investimento total de US$ 188 milhões (R$ 1,14 bilhão na cotação atual), dividido entre poder público – US$ 8 milhões (R$ 48,7 milhões) – e iniciativa privada – US$ 180 milhões (R$ 1,09 bilhão). O recurso público seria para as obras de mobilidade e estudos do projeto.
Após os estudos, será aberto um edital para a iniciativa privada entrar no investimento. A empresa vencedora terá direito a explorar o trecho durante 35 anos.
— A construção será toda financiada com recursos privados. A empresa vencedora poderá cobrar tarifas com valores similares às que existem hoje (na travessia). Nossos estudos de viabilidade econômica mostram que o investimento é atrativo para o mercado — pondera.
Os valores previstos para as tarifas são de R$ 4,50 para motocicletas e R$ 10 para automóveis; o montante cobrado para caminhões ainda não foi determinado.
Outros projetos na região
Além do túnel imerso, o Promobis contempla outras iniciativas na região: sistema de transporte coletivo regional 100% elétrico (BRT), implementação de corredores de mobilidade e obras de resiliência climática em Balneário Camboriú.
A somatória dessas melhorias (túnel e mobilidade urbana) pode chegar a R$ 2 bilhões, com prazo de término dos trabalhos em 2032.
Para as obras de mobilidade, haverá recursos de um financiamento do Banco Mundial (ainda em contratação), além de aportes do governo estadual catarinense e dos municípios beneficiados: Balneário Camboriú, Balneário Piçarras, Bombinhas, Camboriú, Ilhota, Itajaí, Itapema, Luis Alves, Navegantes, Penha e Porto Belo.