Independentemente do resultado final, a Libertadores de 2020 entrará para a história do futebol gaúcho. Criada em 1960, a competição continental chega à sua 61ª edição neste ano. O Grêmio, cabeça de chave do Grupo E, fará sua 20ª participação. Já o Inter, que na quarta-feira (26) passou pelo Tolima, esteve presente em 13 oportunidades. Mas, pela primeira vez, os maiores clubes do Rio Grande do Sul se cruzarão no principal torneio da América do Sul, em 12 de março, na Arena, e 8 de abril, no Beira-Rio.
O Estado já viveu a expectativa por Gre-Nais na Libertadores em três ocasiões. No ano passado, por exemplo, o clássico esteve perto de ocorrer nas semifinais. No entanto, apenas o Grêmio avançou, eliminando o Palmeiras de Felipão. Já os comandados de Odair Hellmann acabaram caindo diante do Flamengo, que se sagraria campeão posteriormente.
— Sempre se teve essa esperança. Alguns torcedores nem gostariam que tivesse o clássico, pela pressão toda que envolve. Se um dos dois ficar de fora, praticamente acaba o ano para o clube. É muito diferente ser eliminado por São Paulo, Flamengo. Claro que ninguém quer, mas não causa um estrago tão grande — ressalta Paulo Roberto, lateral-direito campeão da América e do Mundo pelo Grêmio em 1983.
Em 2007, na primeira edição em que ambos estiveram no torneio ao mesmo tempo, o duelo passou longe de acontecer. Embora o Grêmio de Mano Menezes tenha avançado até a final, perdendo para o Boca Juniors, o outro lado decepcionou. Chegando com o status de atual campeão, meses depois de conquistar o Mundial de Clubes sobre o Barcelona, o Inter de Abel Braga contrariou os prognósticos e não passou sequer pela fase de grupos.
— Sempre se especula, seja pela imprensa ou pela torcida, quando há a possibilidade de Gre-Nal. Dentro do clube, pouco se fala. E isso acaba até atrapalhando os jogadores no subconsciente, porque tira um pouco o foco principal, que é conseguir a classificação. Mas agora vai ocorrer. Quando saiu o sorteio, vi as datas e pensei em me programar para ver o jogo em abril, no Beira-Rio — comenta Ceará, lateral colorado campeão em 2006.
Já em 2011, a frustração foi dos dois lados. O desenho dos mata-matas colocaria um clássico gaúcho nas quartas de final. Porém, Universidad Católica-CHI e Peñarol-URU bateram as equipes de Renato Portaluppi e Paulo Roberto Falcão, respectivamente, e fizeram um duelo entre si.
— De todos clubes que passei, o Gre-Nal é o maior clássico que já disputei. Joguei vários Gre-Nais, mas não tive a felicidade de jogar um por Libertadores, porque a dimensão é gigante. Seria um sonho para qualquer jogador e agora ele vai se realizar. Desejo que seja um grande jogo e que o Inter possa vencê-lo — analisa o centroavante Leandro Damião, campeão da Libertadores de 2010.
Não há dúvidas quanto ao peso do clássico. Quem vivenciou essa experiência por outros clubes lembra que essas são partidas que ficam marcadas na memória do atleta.
— É o jogo que todo jogador que gosta de desafios quer estar em campo. Tive a oportunidade de disputar um clássico pela Libertadores, que foi Corinthians e Palmeiras, em 1999, e acabamos eliminando o Corinthians (nas quartas de final). Lógico que os jogadores de Grêmio e Inter devem estar motivadíssimos para ter um clássico desse tamanho em uma Libertadores — destaca Paulo Nunes, ex-atacante do Grêmio no título da Libertadores de 1995 e atualmente comentarista dos canais SporTV.
Ainda que o significado seja maior para os gaúchos, no centro do país também havia anseio pelo clássico. Tanto que o narrador do Grupo Globo, Luís Roberto de Múcio, recorda que a possibilidade de Gre-Nal na Libertadores era sempre lembrada durante as transmissões nacionais da emissora.
— Não tenho dúvidas de que esses clássicos tocam o Brasil inteiro. A nossa expectativa para a classificação do Inter, para que tivéssemos esses Gre-Nais, foi muito grande. Cada lance do Inter que colocávamos na transmissão da rede, lembrávamos que passando ele entraria no Grupo E, que tem o Grêmio. A dupla Gre-Nal representa o que o Rio Grande tem de melhor do ponto de vista esportivo, cultural e de vida das pessoas. Eles representam tudo isso. É muito mais do que um clássico, e o restante do Brasil está de olho nele — garante o jornalista.
Com a queda precoce do Corinthians, eliminado pelo Guaraní-PAR, na segunda fase da competição, a possibilidade de novo confronto com o Palmeiras na Libertadores foi frustrada. Assim, restaram os Gre-Nais. E não apenas o Rio Grande do Sul, mas todo o país e até mesmo o continente estará ligado.
Jogar uma Libertadores é algo fora do comum. Encarar um Gre-Nal também tem esse sentimento. Nos traz vontade, determinação, garra. Poder jogar um Gre-Nal pela Libertadores é melhor ainda. É o sonho de qualquer atleta. Imagina, quem sabe, lá na frente, valendo quartas de final, semifinal ou até mesmo na decisão da Libertadores. Aí, sim. Vontade de voltar não falta.
A competição, por si só, é diferente. A Libertadores é única, pelo tipo de enfrentamento e competitividade que exige, assim como o clássico. Serão dois jogos de proporção e dimensão totalmente inéditas, justamente por ser Gre-Nal e por ser Libertadores. Ninguém quer ficar de fora, ainda mais sendo eliminado pelo rival. Não é mata-mata, mas são confrontos que podem deixar um dos dois de fora.