O trabalho de um europeu conquistou a América do Sul. O Flamengo do português Jorge Jesus superou a força coletiva do River Plate de Marcelo Gallardo, derrubou a recente dinastia que o time argentino construiu e conquistou, pela segunda vez, o título da Libertadores. Com dois gols de Gabigol nos minutos finais, o Rubro-Negro fez 2 a 1 e elevou seu nome em Lima, no Peru, para vencer a primeira final em jogo único da história da competição.
De quebra, o Flamengo se garante em duas edições do Mundial de Clubes: a do mês que vem, no Catar, e a de 2021, já no novo formato com 24 clubes projetado pela Fifa.
Antes do jogo, a Conmebol deu um clima grandioso à decisão. Foi realizado um show que lembrava aberturas de grandes competições, com apresentações de Anitta, Fito Páez e Gabriel O Pensador.
Quando a bola rolou, a primeira chegada flamenguista ocorreu com dois minutos. Bruno Henrique puxou o ataque pela esquerda e cruzou, alto demais. O lance, somado à sequência de ataques do Flamengo, mostrava a intenção de atacar o River pelos lados do campo. Sem o predomínio da posse de bola, o time argentino tentava escapar em contra-ataques. Aos oito, após cobrança de falta do Flamengo, o River escapou, mas Filipe Luís voltou bem para fazer o corte, de carrinho.
A primeira chance perigosa do River veio aos 13. Borré avançou pela direita, mas De La Cruz não chegou na área a tempo de finalizar.
Ainda aos 13, o próprio Borré abriu o placar em uma falha da defesa do Flamengo. Pela direita, Nacho Fernández deu um carrinho e cruzou rasteiro, para trás. A bola atravessou lentamente a área, passando pelo meio de Matías Suárez, Arão e Gerson. Borré aproveitou para girar e bater no canto esquerdo de Diego Alves. A eficiência do time de Marcelo Gallardo colocava o River em vantagem em Lima.
O Flamengo sentiu o gol e passou a errar mais na saída de bola. O River voltou a levar perigo em contra-ataque aos 20, mas De La Cruz teve a finalização travada. Três minutos depois, o mesmo De La Cruz roubou a bola de Éverton Ribeiro e tocou para Suárez, que bateu por cima, com desvio do goleiro. O time de Jorge Jesus tinha dificuldades na saída de bola — Gerson tentou escapar aos 32, mas foi logo cercado por argentinos na ponta direita. No minuto seguinte, Arrascaeta tentou invadir a área a dribles e foi desarmado. Na sobra, Bruno Henrique teve a chance de finalizar, mas deu um toque a mais na bola e o ângulo se fechou.
Aos 36, o River levou muito perigo ao gol de Diego Alves. Suárez ajeitou para Palacios, que arriscou de fora. O chute forte, à meia-altura, passou a centímetros da trave direita do Flamengo.
O protocolo do impedimento deu um susto nos torcedores do Flamengo aos 43. Borré recebeu em clara posição irregular e avançou. A arbitragem deixou o jogo seguir, e Diego Alves fez a defesa. Mas nada disso valeu, no fim das contas.
O Flamengo voltou do segundo tempo mais disposto a atacar. Depois de ter passado toda a primeira etapa sem finalizar, conseguiu um chute a gol logo a um minuto. De perto da esquina da área pelo lado direito do ataque, Gabigol puxou para o meio e bateu de esquerda, fraco, para defesa tranquila de Armani.
O time carioca teve a grande chance para empatar aos 11, mas parou em uma sequência de milagres. Bruno Henrique recebeu na esquerda e invadiu a área. Preferiu não chutar e cruzou. Arrascaeta furou, e a bola passou para Gabigol, que chutou em cima de De La Cruz. Éverton Ribeiro tinha o gol à frente na sobra e bateu com força, mas Armani fez uma defesa incrível.
Se controlava até certo ponto as ações ofensivas do Flamengo, o River não conseguia atacar da mesma forma que fazia antes do intervalo. Uma boa oportunidade ocorreu aos 21, nas costas de Filipe Luís. De La Cruz tentou cruzamento rasteiro para trás, mas Rodrigo Caio afastou. No minuto seguinte, Nacho Fernández bateu de fora da área, à direita de Diego Alves.
Com Diego no lugar de Gerson, Jorge Jesus tentou fazer do Flamengo um time mais criativo. Aos 26, o camisa 10 cobrou falta na área, mas o lance foi paralisado pela arbitragem por irregularidade.
Aos 30, o Flamengo voltou a levar perigo. Gabigol tocou para Éverton Ribeiro na direita. Ele cruzou, e Arrascaeta tentou um voleio, mas pegou mal na bola. Depois, Diego chutou para fora. Aos 33, o camisa 9 tinha mais uma chance, mas cruzou em cima da zaga do River.
O time argentino voltou a assustar aos 35, em um erro de Filipe Luís numa dividida no canto esquerdo da área. Suárez roubou a bola e rolou para Palacios, que bateu mal.
Depois de crescer na partida com as entradas de Diego e Vitinho, o Flamengo finalmente conseguiu o gol de empate. Bruno Henrique lançou Arrascaeta, que desviou para Gabigol. O centroavante só teve o trabalho de empurrar para as redes e fazer a sua tradicional comemoração — uma demonstração de força.
O ponto de exclamação na campanha flamenguista ocorreu aos 46. Em falha da defesa do River, Gabigol ficou de cara para o gol e repetiu o que mais fez em 2019: balançou as redes e decidiu o duelo — antes de ser expulso pelo árbitro.
O Flamengo, depois de 38 anos, é o dono da América.
LIBERTADORES — FINAL — 23/11/2019
FLAMENGO (2)
Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís; Willian Arão (Vitinho, 40'/2°T), Gerson (Diego, 20'/2ºT), Arrascaeta e Éverton Ribeiro; Bruno Henrique e Gabigol.
Técnico: Jorge Jesus
RIVER PLATE (1)
Armani; Montiel, Lucas Martínez, Pinola e Casco (Paulo Díaz, 31'/2°T); Palacios, Enzo Pérez, Ignacio Fernández (Julián Álvarez, 23'/2°T) e De La Cruz; Matías Suárez e Borré (Lucas Pratto, 28'/2°T).
Técnico: Marcelo Gallardo
GOLS: Borré (R), aos 13 minutos do primeiro tempo; Gabigol (F), aos 43 e 46 minutos do segundo tempo.
ARBITRAGEM: Roberto Tobar, auxiliado por Christian Schiemann e Claudio Rios (trio chileno). VAR: Esteban Ostojich (URU).
CARTÕES AMARELOS: Casco, Matías Suárez, Enzo Pérez (R); Pablo Marí, Rafinha (F)
CARTÕES VERMELHOS: Gabigol (F) e Palacios (R)
PÚBLICO/RENDA: Não divulgados