Eram jogados 16 minutos do segundo tempo. Gabigol recebeu com espaço na área. Teve tempo para dominar e bater cruzado. Em um movimento rápido, Keiller se atirou para evitar o gol. Dez meses depois daquela defesa, o goleiro do Inter terá a chance de repetir a cena.
Ele será titular contra o Flamengo, no sábado (26). Com Sergio Rochet suspenso, será dele o primeiro nome a aparecer na escalação colorada no jogo das 18h30min, no Maracanã.
O confronto contra a equipe carioca no Brasileirão do ano passado serviu para consolidar a posição do jogador no time de Mano Menezes. Além do lance com o camisa 9 rubro-negro, Keiller salvou no cantinho chute de Arrascaeta e se posicionou bem em cabeçada de Pedro.
A oportunidade em 2022 surgiu devido a um problema ocular sofrido pelo então titular Daniel. A lesão combinada com falhas em momentos importantes da temporada e com as atuações do substituto, o fizeram passar a ver os jogos do banco de reservas após a recuperação. O roteiro vivido por Daniel apresenta similaridade com o que acontece com a posição este ano.
Formado nas categorias de base do clube, Keiller, de 26 anos, aproveitou a brecha dada pelo companheiro, assim como seu antecessor fizera em 2021. Após o brilho inicial, o momento de afirmação apresentou percalços. Foi assim com Daniel. Foi assim com Keiller.
A chance não foi agarrada com a mesma firmeza. Algumas atuações sem defesas esperadas fizeram Keiller perder espaço para John, contratado em janeiro. Depois, em julho, Rochet desembarcou sem aviso prévio para assumir a meta colorada. Em dois meses, ele foi de titular à terceira opção.
— É importante levar a situação para o lado positivo e ficar calejado. O Keiller tem um futuro brilhante. Ele tem de aprender com as situações e ter cabeça forte, porque é o mental que conduz tudo — observa o ex-goleiro Lauro, hoje preparador de goleiros da Ponte Preta.
Campeão da Copa Sul-Americana em 2008, Lauro viveu situação similar dois anos depois, quando Abbondanzieri foi contratado em fevereiro e, depois, Renan retornou ao clube no segundo semestre.
A perda de espaço fez o camisa 1 sobrar do banco nas partidas contra Cuiabá, River Plate, nos dois jogos, e Corinthians. John se foi para o Valladolid-ESP e uma nova brecha apareceu para o goleiro nascido em Eldorado do Sul.
Com Keiller sob as traves, o Inter sofreu 28 gols em 24 anos este ano. Entre eles, sete em chutes de longe e outro da risca da grande área, alguns indefensáveis, outros em que poderia ter tido uma execução mais apurada.
Esse tipo de lance faz com que os gols esperados para ele ter sofrido, segundo a plataforma WyScout, sejam de 23,8. O índice de John foi de 14,93 e ele foi vazado 10 vezes. Novo titular, Rochet tem 8 gols sofridos e um taxa de gols esperados de 7,54 — a plataforma não tem os gols dos mata-matas da Libertadores disponíveis em suas métricas.
Ainda aconteceram lances bem menos duvidosos na avaliação. Logo no primeiro jogo do ano, contra o Juventude, Keiller soltou uma bola fácil que resultou no primeiro gol do jogo. Na Libertadores, foram dois erros em saída do gol. O primeiro diante do Independiente Medellín, na Colômbia, outro contra Nacional-URU, em Porto Alegre.
Lauro argumenta que o momento do time também pesa para o primeiro homem da defesa. Não é apenas o 2023 de Keiller que está turbulento. A temporada estava até o mata-mata da Libertadores abaixo das expectativas no Inter. Em um ponto crucial do calendário, o time mostra sinais de crescimento.
— É um momento especial para o Keiller. É uma dificuldade da profissão, vejo isso mais nítido agora que sou preparador de goleiros. O goleiro às vezes embala com o time. O ano do Inter está conturbado como um todo e isso pesa para o goleiro, que é a referência da defesa — indica Lauro.
A última partida de Keiller foi em 3 de junho contra o Santos, já que John pertencia ao clube paulista, o que o impedia de ser utilizado. Antes disso, seu jogo anterior foi na derrota por 3 a 1 para o Grêmio, em 21 de junho. Agora, ele tem um Maracanã e Gabigol pela frente, o que é um desafio tão grande quanto o tamanho da oportunidade.
Keiller no ano
- 24 jogos
- Oito vitórias
- Nove empates
- Sete derrotas
- 28 gols sofridos
- 2.190 minutos em campo
- Sofre um gol a cada 78,2 minutos
Keiller o Inter desde 2017
- 42 jogos
- 17 vitórias
- 15 empates
- 10 derrotas
- 41 gols sofridos
- 3.833 minutos em campo
- Sofre um gol a cada 93,4 minutos