Depois de atender o Sala de Redação e o Paredão do Guerrinha, D'Alessandro recebeu o repórter Rafael Diverio, de GZH, para falar de temas que não chegaram a ser mencionados nas outras entrevistas. Veja os principais trechos.
Estás em Porto Alegre desde 2008. E tua casa é relativamente longe do CT. Então acompanhaste as mudanças da cidade ao longo dos anos. A cidade melhorou ou piorou neste período?
Vou evitar entrar em política. Mas como cidadão de Porto Alegre, vi muitas mudanças. Jogador de futebol vive em uma realidade paralela com a maioria da população. Tenho cuidado de falar sobre isso porque sei que tem problemas sociais e econômicos, como na Argentina também. Mas vi a cidade melhor, a orla, por exemplo, que é uma coisa mínima. Só não quero entrar em temas mais profundos porque não é meu foco.
Fica muito chato para vocês falar em política?
Chato, não. Mas tem que saber para falar. E eu nunca me interessei em saber mais do que sei. Me preocupei mais era quando a política entra no futebol, porque não é uma coisa boa.
Política no futebol, te referes a pessoas usarem o clube para promoção política?
Sim, esse é um exemplo. Mas falo mais da política interna do clube. Isso é ruim.
Isso entra no vestiário?
Entra. Depois de 14 anos no nosso clube, te digo: entra. Sempre me preocupei com isso. Porque gosto. Ouvia entrevistas de dirigentes, atletas, mesmo fora do horário do clube. Achava que deveria ter uma maneira de trabalhar. Mas preciso saber para poder debater. Não ficar sabendo porque "alguém me contou". Preciso ouvir direto de quem veio.
No Paredão do Guerrinha, vocês falaram sobre algumas brigas tuas, com adversários, árbitros, técnicos. Tudo faz parte da carreira. Mas teve com a imprensa também, né? Tem alguém que tu gostes?
Tem gente que eu respeito. Quem não me respeita, eu não respeito. Não preciso brigar, mas também não preciso atender, dar atenção.
Um tema que não foi falado: 2016. Lembro que em uma entrevista, disseste que não podias falar tudo o que sabias porque ainda eras jogador do Inter. Agora já podes?
Em 2016, em nível de direção, foi tudo errado. Não posso dar detalhes. Fui cobrado já por isso, mas não posso externar coisas do vestiário.
Vocês tinham noção do que ocorria? Falando sobre o que foi apurado pelo Ministério Público?
Não.
Mas sabiam que tinha coisa errada.
Eu estando lá dentro, sentia que o troço não estava organizado. Sabe quando o ambiente não é bom? Quando não existe preocupação pelo dia a dia, quando chega ao treino e não tem ninguém da diretoria. E outras coisas que não tenho como falar.
Nunca?
Nunca.
Vou marcar aqui, igual. Daqui a 10 anos tento de novo (risos).
Não tenho como, pode ser pior para todos.
Na parte final da carreira, entraste em uma fase mais reflexiva. Lembro que certa vez, chegaste a dizer: "No futebol a gente perde mais do que ganha". É isso mesmo? Por mais que tenhas vencido tanto, as derrotas deixam marcas tão duras?
A gente perde mais do que ganha, sim. Se parar para pensar todos os campeonatos que joguei e quantos ganhei, perdi mais. Final da Copa América, Campeonatos Argentinos, eliminações em Libertadores, duas finais da Copa do Brasil, dois vices do Brasileiro, Mundial. Ainda mais do jeito que foi. Tudo isso marca. É duro.
Chegas ao final da carreira sentindo alguma dor crônica?
Tenho só um caroço aqui, olha (mostra uma cicatriz na perna). Mas é uma lembrança do futebol (risos). Brincadeiras à parte, a gente tem dores. Só não costumo falar tanto disso.
Batistuta, por exemplo, teu conterrâneo, tem dificuldades até de locomoção.
Sim, aquele problema dos tornozelos. Eu até não. Mas venho convivendo há dois anos com um problema no quadril, quem é do clube sabe, às vezes dói mais, outras menos. Nas viagens longas, ficava sentado muito tempo e, quando levantava, o quadril gritava. Dores fazem parte da rotina. O que cuidei foi para não ter lesões musculares. Me cobrei muito para não ficar fora de jogo. Ainda mais com a minha idade, ia ouvir que era ex, que deveria parar. Em 2020, 21 e 22, não tive nada. Me cuidei muito.
Muitos jogadores param de jogar porque não aguentavam mais treinar. Não parece ter sido teu caso.
Não, não foi meu caso. Gostava de treinar.
E de jogar bola?
Ah, vou continuar, né?
Vais chamar os amigos, bater uma bolinha?
Sim, vou. No condomínio, me convidaram para jogar. Ao menos disseram que vão me chamar.
Isso vai fazer parte da nova rotina de família, como levar filhos na escola, ir em reunião de pais...
Sim, levo na escola sempre. Não sei se vou em reuniões.
Bom, até para não virar a atração da reunião.
Até não é por isso. Porque vou no colégio, converso com os pais, com as crianças, bato um papo com os seguranças. Tem de ser assim. Precisamos ser "normais", né?