Mano Menezes é pop. A evidência está na sua atuação nas redes sociais desde o seu anúncio como técnico do Inter, semana passada. Em menos de uma quinzena de dias no Beira-Rio, o número de seguidores nas redes sociais se multiplicou e quebrou a marca de 110 mil no Instagram. O engajamento gerou neologismos como "manismo", "manonizado", "manolismo" e "manolizado". A empolgação é convergência do trabalho de comunicação realizado por ele e os resultados colhidos em campo, com duas vitórias em duas partidas.
O que emergiu das telas dos computadores e dos smartphones foi um profissional carismático, com sorriso de orelha a orelha e que entrou no clima da repercussão positiva de sua chegada ao clube, além de oferecer um acesso exclusivo ao ambiente colorado.
Mano transformou quem o acompanha em testemunhas oculares de seus primeiros momentos como técnico do Inter. As interações iniciais no CT Parque Gigante foram com os massagistas Juarez Quintanilha e Banha, dois dos mais antigos e queridos funcionários do departamento de futebol. Cada um deles recebeu um efusivo abraço. Na sequência, o treinador comandou seu primeiro treino, atravessou a rua e foi ao Beira-Rio conceder entrevista coletiva e, por fim, cruzou o túnel que dá acesso ao gramado.
Na volta de Bogotá, onde o Inter venceu o Independiente Medellín, pela Sul-Americana, gravou vídeo convidando a torcida para seu primeiro jogo no Beira-Rio. A interação constante e direta ajudou a criar uma conexão, por ora, sólida com os colorados.
Das postagens emerge um Mano mais leve. Um dos principais exemplos foi aderir às brincadeiras em relação a sua semelhança com James Hetfield, vocalista do Metallica. A nova fase quebra também alguns momentos mais carregados de suas passagens por Flamengo, Palmeiras, Bahia e a fase final de seu longo e vitorioso período no Cruzeiro.
— O Mano sabe trabalhar bem com esse lado de conversar com o torcedor. No Palmeiras, soube fazer isso para diminuir as críticas devido ao seu vínculo com o Corinthians. Acho que ele está mais light. Ele vinha de uma sequência de muita pressão. Quando volta para o Sul, sente a segurança de estar em casa. Adotou mais uma posição de paz e amor — avalia Erich Beting, especialista em marketing esportivo.
O crescimento exponencial não está apenas relacionado ao modo como o treinador conversa com o torcedor. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Camila Menezes, filha e responsável pelo conteúdo das mídias digitais do comandante colorado, contou que o retorno recebido foi mais positivo do que em outros momentos, como quando seu pai foi técnico da Seleção.
O sucesso se deve também à estratégia adotada na condução desses primeiros dias de trabalho e a um forte regionalismo. Entre as primeiras publicações após o anúncio de sua contratação estava foto em que Mano carregava no peito várias faixas de títulos conquistados com as equipes de base do Inter.
— Quanto mais próximo o profissional for da audiência do clube e da sua região, mais ele consegue se aproximar e conquistar engajamento, trazendo assim novas pessoas para assistirem aos jogos, entender o que dá audiência ou não e assim ele vai gerando novas conversas para além do time em campo — argumenta Julia Leão, diretora de estratégia de comunidades da Squid.
O êxito na comunicação está longe de ser uma novidade para Mano Menezes. Ele não é um neófito no mundo da internet. Em um outro momento das redes sociais, foi pioneiro. Em 2009, criou conta no Twitter. Naquela época, ele comandava o Corinthians e compartilhava um pouco de sua rotina. As ações foram como um imã para a Fiel. Por algumas semanas, a conta era a recordista de seguidores no Brasil, sendo ultrapassada em novembro daquele ano por Luciano Huck.
O microblog foi uma saída que se encaixou bem com a ideia criada por Camila. A proposta inicial era a criação de um blog. As demandas do dia a dia impediram a concretização do processo. Mais dinâmico, o Twitter se encaixou bem com aquilo que o treinador precisava. O frenesi das últimas semanas é apenas mais um passo nessa relação com as mídias digitais.
— É importante criar uma conexão desde o início. Tem de ser autêntico. Não dá para ter um discurso que não tem nada a ver com o que ele é. Não tínhamos nada combinado — explica Camila sobre as ações iniciais.
Mas a vida de treinador é turbulenta. O êxito nas redes acompanhou os feitos em campo. Em algum momento, críticas e tropeços virão.
Em situações similares, o bom humor do torcedor adota um tom mais ácido, e os colorados já mostraram mudança de comportamento.
Quando surgiu nos profissionais e virou um fenômeno midiático, o meia Valdívia era rotulado de irreverente. Nos momentos de baixa do time, publicações similares receberam comentários pouco simpáticos.
— Quando os resultados são ruins, é hora de fechar a casinha, o que ele sabe fazer muito bem dentro de campo — brinca Beting.
Por enquanto, Mano Menezes é pop, mas como dizem os Engenheiros do Hawaii, o pop não poupa ninguém.