Diego Aguirre está a um telefonema de não ser mais técnico do Inter. Só que esse telefone pode nunca tocar. O uruguaio é o nome mais indicado, repetido e aguardado para treinar a seleção de seu país. Mas a Celeste tem um um comandante. E não se trata apenas de alguém que dirige um time: é "El Maestro", o Professor, Óscar Tabárez. Uma lenda viva. Que, ainda que tenha problemas de saúde, não deseja sair do cargo agora. E ninguém se atreveria a simplesmente mandá-lo embora.
Para dar uma ideia: Tabárez é o técnico com mais partidas na história da Celeste. Não bastasse isso, são quatro Copas do Mundo (1990, 2010, 2014 e 2018). Campeão da Copa América disputada na Argentina em 2011, ele tem bem mais do que resultados em campo: foi o autor do projeto que revolucionou a seleção uruguaia. Criou um sistema de times fixos desde a base, que ajudaria a dar entrosamento e reconhecimento. Nele, o jogador aprenderia ainda criança o significado de vestir a camisa do país. Por isso, não seria como simplesmente trocar um profissional por outro, como muitas vezes ocorre.
Mas enquanto a delegação colorada voava para São Paulo no sábado, Aguirre esteve próximo de lotar a caixa de mensagens de seu celular. Naquele momento, uma reunião na sede da Associação Uruguaia de Futebol (AUF) estava inclinada a mudar o comando da seleção.
— Havia companheiros que queriam trocar o treinador, mas ao longo da reunião foram mudando sua postura — revelou Jorge Casales, dirigente da AUF.
Na conversa, houve mensagens de apoio dos jogadores, que elogiaram o trabalho do Maestro e reconheceram suas parcelas de culpa pelos maus resultados. A própria comissão tratou de admitir as falhas e mostrou um plano de reação. Para além disso, a próxima data Fifa é cruel com os vizinhos do sul: os dois jogos serão contra Argentina (em casa) e Bolívia (na altitude de La Paz). Até isso pesou para a manutenção da comissão técnica. No entendimento dos dirigentes, seria injusto com um eventual novo treinador fazê-lo estrear contra o segundo colocado (ainda invicto) das Eliminatórias e depois subir os cerca de 3,5 mil metros para uma partida que costuma ser cruel para os visitantes.
Mas depois de novembro, tudo pode mudar. Aguirre tem um apoio importante. Por mais que não seja dirigente, o ex-capitão Diego Lugano aponta o atual comandante colorado como o nome ideal para uma eventual saída de Tabárez. Por enquanto, não houve contato.
— Não falamos com Aguirre. Ninguém da AUF falou Diego nem mandou falar. Respeito muito Lugano como ex-jogador, mas não tem qualquer participação nisso — declarou Casales.
Na outra ponta, o Inter aguarda. Mas não inerte. Aguirre deixou claro na entrevista coletiva que um convite para dirigir a seleção de seu país é, na verdade, uma convocação:
— Se falou muito, mas não recebi nenhuma chamada. O Inter também não. Então foi uma possibilidade, mas em nenhum momento falamos disso. Estávamos pensando no jogo. Óbvio que gera uma expectativa, mas antes do jogo havia a confirmação de que não ia acontecer, então não atrapalhou nesse sentido — comentou Aguirre em entrevista coletiva.
No sábado, houve apreensão e até sondagens. Quando houve a confirmação de que o Uruguai manteria Tabárez, a sensação passada pelos dirigentes foi de alívio. Aguirre é uma pessoa com cartaz altamente positivo, elogiado por todos pelo conhecimento, pela relação com os profissionais e pelo fino trato com os empregados. Além disso, é consenso de que encontrou a melhor forma de jogar, e uma mudança agora seria prejudicial.
Mas os dirigentes entendem o sonho do treinador dele de comandar a seleção uruguaia e disputar a Copa do Mundo. Se isso de fato ocorrer, passarão a intensificar as buscas. Naturalmente, o nome mais repetido seria o de Abel Braga, de ótimo trânsito entre os atletas, mas nem tanto entre os dirigentes. Eduardo Coudet, que vive uma temporada de montanha-russa no Celta, também habita o imaginário, mas não deve sair da Europa.
Há outros candidatos: Hernán Crespo, que recentemente deixou o São Paulo, é visto com bons olhos. Roger Machado também já recebeu elogios internos. Vojvoda, do Fortaleza, seria outra especulação natural. E ainda há Abel Ferreira, finalista da Libertadores com o Palmeiras, que poderia ser procurado caso saísse do atual campeão da América.
Mas para isso tudo, precisa ocorrer o tal telefonema. E antes de novembro, isso está descartado.
Candidatos
Abel Braga — toda vez que o Inter ficar sem treinador e Abel Braga estiver disponível, essa associação será feita. Campeão do mundo e da Libertadores, Abelão é o treinador que mais vezes dirigiu o time na história. É querido pelo grupo de jogadores, que inclusive pediu sua permanência. O que pesa contra ele é um desentendimento que teve com dirigentes na temporada passada. Mas nada que não possa ser aparado.
Hernán Crespo — o técnico que tirou o São Paulo da fila em campeonatos estaduais conta com a simpatia de dirigentes. Multicampeão enquanto jogador, já tem conquistas apesar da curta carreira de treinador. Mesmo após sair do Morumbi, voltou para cumprimentar os atletas e os dirigentes, além da nova comissão técnica. É adepto de um jogo ofensivo.
Juan Pablo Vojovda — se não é dono do melhor, certamente é o responsável pelo trabalho mais surpreendente do país. Seu Fortaleza está na parte de cima da tabela do Brasileirão desde as primeiras rodadas. Mesmo com um grupo de orçamento modesto, conseguiu construir um time organizado, ofensivo e equilibrado. No final da temporada, deve estudar novas propostas.
Roger Machado — sonho antigo do Inter, o treinador rejeitou convite do Grêmio para assumir o time nesse momento. Roger prefere sempre iniciar temporadas e usa o período sem emprego para se aperfeiçoar. Falta-lhe ainda o título que o fará ter o grande salto na carreira, mas acumula experiência em algumas das principais equipes do futebol brasileiro.
Abel Ferreira — ninguém no Inter esconde a admiração pelo técnico do Palmeiras. A escola portuguesa de treinadores é desejo colorado. O problema é que Abel está bem empregado. O que não significa muito: há duas semanas, apesar de ser, de novo, finalista da Libertadores, foi xingado por torcedores. Seu contrato encerra-se no final do ano. Quer voltar para a Europa, mas precisa ver se os europeus vão querer.
Colunistas opinam
Qual seria o melhor substituto se Aguire sair?
Gustavo Manhago
Com esse grupo e pelo que mostrou ser capaz de fazer, não tem ninguém mais indicado do que Abel Braga. Seria o cara certo para começar a próxima temporada. Não adianta o Inter investir ou pensar em Coudet de novo, ou algum nome mais jovem, que tenha estilo de jogo diferente porque não vai conseguir trocar todas as peças. Tem que trazer alguém que se adapte às peças disponíveis. Pode ter algum reforço, mas não muito.
Marcelo De Bona
O Inter precisa olhar para frente. Pensar em novas ideias para buscar a virada de chave. Ter uma temporada inteira regular que poderá resultar em conquista de títulos. Descartaria nomes como Abel Braga e até Eduardo Coudet, que fez, na minha opinião, um grande trabalho no Inter. Dos nomes no mercado olharia com atenção para o argentino Hernán Crespo.
Marcos Bertoncello
A trajetória de Hernán Crespo no Brasil foi interrompida de forma precoce. Foram cerca de oito meses treinando o São Paulo, com problemas muito mais estruturais, enraizados no clube, do que pontuais, como rendimento em campo. Quando conseguiu implantar seu modelo de jogo, Crespo deu uma cara para a equipe paulista, que foi uma das sensações do primeiro semestre, conquistando um título estadual, que não vinha desde 2005, e avançando na Libertadores e na Copa do Brasil. Iniciar uma temporada de forma mais "equilibrada", diferentemente do que vem sendo na transição do último ano, pode dar ao técnico argentino a possibilidade de mostrar que seu trabalho é frutífero. Sem contar a evidente preferência de Crespo por sistema com três zagueiros, algo que tende a casar bem com o atual grupo do Inter, que conta com bons defensores e laterais mais ofensivos, os famosos alas.