A definição sobre a permanência de Paolo Guerrero no Inter foi feita na calada da noite de terça-feira (4), após conversa olho no olho entre o atleta, o empresário Vinicius Prates, que o representa, e os dirigentes Paulo Bracks, diretor-executivo, e João Patrício Herrmann, vice de futebol do clube. Os quatro sentaram-se para discutir o futuro do centroavante peruano, que tem contrato até dezembro de 2021, e as cartas foram colocadas à mesa.
O Inter foi pego de surpresa com o pedido de rescisão contratual por parte do jogador, externada publicamente por seu representante no sábado. Mas, rapidamente, agiu para contornar a situação. A definição interna foi de que o clube não poderia ceder à pressão do atleta, que hoje é reserva do ataque colorado, ainda que se recupere de uma tendinite no joelho direito e não esteja à disposição do técnico Miguel Ángel Ramírez neste momento.
Durante a conversa entre as partes, o jogador e seu empresário explicaram os motivos que levaram ao pedido de rescisão. Guerrero relatou mágoa por algumas manifestações de pessoas ligadas ao clube, mas ouviu dos dirigentes que essas insatisfações devem ser tratadas internamente, especialmente quando envolvem um atleta do tamanho do peruano.
Para deixar o Inter, Guerrero teria de pagar uma multa elevada: cerca de R$ 20 milhões, incluindo devolução proporcional das luvas neste valor. O clube, que está com os pagamentos em dia com o atleta, não abriu mão da quantia firmada em contrato caso o jogador quisesse mesmo sair. Por isso, a possibilidade de rescisão amigável foi descartada. A partir desta definição, os dirigentes colorados fizeram algumas exigências a Guerrero e ao representante para que a página pudesse ser virada.
Primeiro, firmaram um pacto de silêncio sobre este tema. Ficou combinado que apenas o Inter poderia falar sobre o assunto, evitando nova repercussão negativa com falas do empresário. Na noite de quarta-feira, antes do jogo contra o Olimpia, em entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente Alessandro Barcellos afirmou que conversou com Guerrero e considera o tema superado:
— Nós viramos a página e contamos com ele para o restante da temporada. O Inter sempre contou com o Guerrero. Sempre falei da importância dele e o foco agora está na recuperação do atleta.
O mandatário colorado, que não participou da reunião com o jogador e seu representante, trouxe um novo motivo para justificar a atitude do centroavante:
— O jogador está em um momento de recuperação, tentando voltar à sua melhor forma, e esse momento não é fácil na carreira de um atleta. Ele fala muito para nós da vontade de estar em campo. Algumas questões foram levantadas, explicadas, recolocadas no seu devido lugar, para uma reavaliação da postura equivocada. Mas isso basta para nós, porque queremos o Paolo na melhor das suas condições, nos ajudando.
A segunda exigência do Inter, que serviu para fortalecer a diretoria do clube, foi para que o peruano gravasse um vídeo reiterando o foco na equipe colorada. Na gravação, divulgada nas redes sociais do clube perto da meia-noite de terça-feira, Guerrero afirmou, parecendo um tanto encabulado:
— Após uma reunião com o clube e meu empresário, viramos a pagina. Quero deixar claro que a minha cabeça está totalmente focada em ajudar a equipe e meus companheiros. Temos um grande grupo e grandes objetivos nessa temporada. Darei a vida até o último dia para conquistar grandes coisas. Conto com a torcida e a força de vocês para juntos termos muitas alegrias. Contem comigo para sempre.
O vídeo foi considerado algo importante pelos dirigentes, para mostrar interna e externamente que a queda de braço foi vencida pelo Inter — evitando, assim, que outros jogadores também tenham atitudes parecidas. Pelo peso de Guerrero e a postura firme apresentada pela direção colorada, o sentimento dentro do clube é de que o recado foi dado e o jogador foi o principal prejudicado pela repercussão do caso.
— É normal uma insatisfação em um ambiente de competição. Lamentamos que tenha sido tratada de forma pública, mas foi tudo foi solucionado e creio que esteja resolvido. Foi uma decisão boa para o clube e para o atleta. Lógico que temos sempre que ter nossa responsabilidade com o clube e com os profissionais. Deixando de lado nossas vaidades, nossos erros, afinal, somos todos humanos. Nesse momento, temos de pensar no clube. Foi o que todos fizeram. Não é o momento de ter essa discussão. É momento de focar na Libertadores, no Gauchão. O clube está acima de todos e o convívio seguirá sendo muito bom — destacou João Patrício Herrmann.
GZH fez contato com Vinicius Prates, empresário de Guerrero, que não quer se manifestar. Ele garantiu, apenas, que o tema foi superado. Assim, o peruano volta a focar somente na recuperação de uma tendinite no joelho direito para que, o quanto antes, possa ficar à disposição de Ramírez e mostrar que essa página foi realmente virada.
E nada melhor do que gols para pedir desculpas à torcida colorada.