A declaração de Edenilson após o Gre-Nal 431, no qual o Inter perdeu de virada por 2 a 1 e saiu em desvantagem na final do Gauchão, pegou tão mal que o próprio jogador pediu para ir a público explicá-la no dia posterior. A segunda-feira (17) seria apenas de treino para os colorados, mas o camisa 8 solicitou uma entrevista coletiva para "esclarecer" o que quis dizer. E, claro, o debate sobre sua opinião na saída do campo foi reaceso.
A frase de Edenilson, pouco depois do apito final, foi:
— Tem horas que temos de reconhecer que o adversário está melhor na partida e baixar as linhas. Faltou um pouco de inteligência. Nem sempre temos de jogar expostos.
À primeira vista, parece uma crítica ao treinador. Miguel Ángel Ramírez é conhecido por ter um estilo mais ofensivista, de buscar o gol e correr riscos. E isso, no entendimento inicial, pareceu ser o oposto do que o Inter precisava naquele momento do Gre-Nal, segundo Edenilson. Mas ele mesmo tratou de minimizar:
— O esquema de jogo, a gente vem treinando há um tempo. Procuramos trabalhar juntos. Ele (Ramírez) é um treinador muito aberto a ouvir a nossa opinião. Então, eu nem posso criticar o trabalho do treinador, sendo que estou incluído nele. Também dou minhas opiniões, assim como todos os jogadores. Não tem porque fazer esse burburinho de conspiração, que não existe. Está todo mundo no mesmo barco. Quando ganha, ganha todo mundo, e quando perde também. O que me incomoda é que eu fui fazer uma avaliação para não dar uma resposta robótica e, ao invés de ajudar, as pessoas distorcem o que se fala.
Opção pelo estilo reativo
Independentemente da visão de Edenilson, o debate sobre o grupo colorado ser o mais adequado para esse estilo de jogo, que exige troca de passes, movimentação, coragem para atacar e assumir riscos voltou após a nova derrota para o rival. Desde a saída de Diego Aguirre, em 2015, o Inter mudou seu jeito para um estilo mais reativo, de fechar espaços e buscar contra-ataques. Nem mesmo no período em que esteve na Série B teve amplo domínio sobre os adversários baseado em controle da posse.
Com Abel Braga e antes, com Odair Hellmann, baixava linhas e espetava pontas para buscar o ataque em velocidade, com lançamentos. No período de Eduardo Coudet, tentou uma imposição baseada na força, no sufocamento do adversário. Mas com controle e circulação de passes, só Ramírez apresentou. Como mudar essa cultura em jogadores tão acostumados ao contrário?
Atual técnico do Red Bull Brasil, Vinícius Munhoz treinou o Inter-SM e a Ferroviária, de Araraquara, e aplicou esse estilo de jogo. Mesmo com as limitações de uma equipe do Interior (qualidade dos jogadores, gramados ruins, condição de treinos), conseguiu implantar suas ideias. Ele ajuda a responder:
— Penso que o "como queremos jogar" depende muito do treinador, do treino e do tempo. Independe se é jogo de posição, ou outra forma de jogo. Do treinador, porque é dele a ideia de como a equipe vai jogar. Do treino, porque é a forma de operacionalizar a ideia. Do tempo, porque hábitos e comportamentos não são adquiridos em um curto espaço de tempo, é preciso processo até a ideia consolidar.
Especificamente sobre o jogo de posição, completa:
— No que diz respeito ao estilo, sobre funcionar somente com determinados jogadores, entendo que depende mais de estar disposto a aprender e desenvolver a ideia do treinador e menos de reunir ou não características para praticar o jogo de posição.
O fato é que, quando bem executado, o jogo proposto por Ramírez encanta. E nem precisa sair do Inter para encontrar exemplos, basta recordar as vitórias sobre Táchira, Olimpia e Juventude. Esse aspecto foi elogiado pelo goleiro Alisson, autor do histórico gol que deu a vitória ao Liverpool no último minuto, no fim de semana, em entrevista à ESPN:
— Claro que alguns times cometem exageros (ao sair jogando), até mesmo na Europa. Eu mesmo cometi erros assim. É bom ver que se tenta jogar assim no Brasil. O Brasil tem qualidade, os times são bons. Penso que o nível do futebol brasileiro é alto. O nível do gramado algumas vezes afeta a qualidade do jogo, mas é possível.
É assim, entre adaptações e ajustes que o Inter tenta se reencontrar em uma semana tão decisiva. Antes de pensar no Gre-Nal de domingo que vem, e na reversão que precisa, terá o Olimpia na quinta-feira, em partida fundamental pela Libertadores.
Respaldo ao técnico
Internamente, a direção entende que o trabalho é bem feito e as falhas fazem parte do processo de mudança do sistema de jogo. Publicamente não há qualquer palavra de crítica ao treinador, e sim de respaldo. E mesmo em conversas privadas, o sentimento é o de apoiar Ramírez.
— Se a rota não está na linha que entendemos, temos que agir. Agir dentro do centro de treinamento e do vestiário. Temos convicção no trabalho que todos estão fazendo. Se nos colocamos nessa situação adversa, será esse mesmo grupo, essa camisa, essa mesma direção e comissão técnica, que vão nos tirar dessa situação — foi a manifestação do executivo Paulo Bracks.
Entre os jogadores, há garantia de que as instruções estão sendo assimiladas, e que falhas específicas impedem resultados melhores. Edenilson disse:
— Tivemos mais jogos bons do que ruins. Se pegarmos nossas derrotas, elas aconteceram em erros pontuais e, mesmo assim, tendo um bom volume de jogo. O treino é todo do professor Miguel, com ajuda do Martín (Anselmi) e do Osmar (Loss), que são os seus auxiliares. Tenho certeza de que a gente entendeu o estilo de jogo que ele quer implantar. A própria demonstração está nos resultados que apresentamos em casa, e é nisso que temos que nos apegar. Não podemos nos achar o melhor time porque fizemos seis, mas sim, se apegar aos detalhes que nos fizeram marcar tantos gols e conquistar as vitórias.
O camisa 8 disse ainda que o grupo é quem precisa se adaptar às ideias do treinador. E isso vale, segundo ele, não só para o estilo e para a forma de jogar como também para o rodízio de jogadores e para as mudanças de equipe de acordo com o adversário.
— Estamos representando o Inter e ele (Ramírez) nos ajuda a fazer isso — finalizou.