Desde a inauguração do novo Beira-Rio, em 2014, uma escalação de luxo foi a campo no estádio: Rolling Stones, Paul McCartney, Guns N' Roses, The Who, Aerosmith, Elton John, James Taylor, Bon Jovi, Maroon 5, John Mayer, Green Day, The Pretenders, Phil Collins e, nesse domingo (4), o Foo Figthers pisou o palco daquela que tem sido a principal casa dos grandes shows de Porto Alegre.
Administrado pela Brio, o aluguel do estádio custa R$ 350 mil por show. A Sociedade de Propósito Especifico (SPE) – formada pela construtora Andrade Gutierrez e pelo banco BTG Pactual – é gestora do edifício-garagem, de 125 camarotes e de 5 mil cadeiras no estádio, além de 66 bares, da gastronomia e das lojas no complexo, do Sunset, além do direito a datas específicas no Beira-Rio para eventos .
No ano passado, sete grandes espetáculos foram agendados para o complexo. Ainda em 2018, outros grandes nomes podem se apresentar no Beira-Rio — há esperança de que Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam, The Killers e Beyoncé desembarquem em Porto Alegre ao longo da temporada.
Nesta entrevista, Paulo Urnau Pinheiro, um porto-alegrense e colorado de 56 anos, CEO da Brio, conta como funciona a operação do estádio em dias de espetáculos, qual foi o maior faturamento nos concertos e fala sobre os cuidados com o gramado do Beira-Rio.
Por que Porto Alegre e o Beira-Rio entraram na rota dos grandes shows?
A cidade e o estádio ficaram gravados no roteiro de artistas e de produtores como um local onde os shows dão certo. O Beira-Rio, e a construção que a Brio fez com as produtoras, tendo como marco o show dos Rolling Stones em 2016, mudou tudo. As produtoras também sabem que a Brio e o Inter trabalham bem em conjunto, que está tudo azeitado, e isso conta para este sucesso. A localização do estádio também conta muito: central, com acesso fácil por todos os lados.
O Beira-Rio já está consolidado como um espaço multiuso?
Com certeza. Os estádios feitos para a Copa de 2014 tiveram como objetivo, além do futebol, se tornarem multiuso. E isso tudo potencializa o patrimônio do clube. Dia desses, conversando com o pessoal do Sindha (Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região), eles me disseram que muitos dos picos de ocupação dos hotéis da Capital ocorrem em períodos de shows no Beira-Rio. Isso acaba revertendo em benefício à cidade, e não apenas da Brio ou do Inter.
Como se resolvem os conflitos de datas de jogos e de shows no estádio?
Como interessado direto na ocupação do Beira-Rio, quero todos os jogos e todos os shows no estádio. A maior parte do faturamento da Brio vem do futebol e não dos shows. Nosso lucro é 60% de futebol. Se não tem jogo, a empresa está perdendo. No Brasil, todo o estádio multiuso sofre do mesmo problema: o calendário. Um exemplo: as datas do Campeonato Brasileiro de 2018 foram definidas há pouco tempo. Como marco um show grande seis meses ou um ano antes? Por sorte, a nossa relação com o Inter é muito boa. Nem tudo dá certo, por vezes, mas tentamos fazer o melhor para todos. Outro exemplo: Inter e Cianorte não estava no calendário. Foi sorteio, uma semana antes. Não se sabe o que acontece de uma semana para a outra com este calendário. Dois shows na semana, com um jogo no meio. É loucura. Por isso, precisamos desmontar o palco do Phil Collins (o concerto foi na noite de terça-feira, 27) e montar o palco para o Foo Fighters (na noite de domingo, 4) quase ao mesmo tempo. É muito complicado.
E como se trabalha para manter o gramado em boa condições, com espetáculos para 40 mil pessoas?
Temos um cuidado imenso com o gramado do Beira-Rio. Temos utilizado toda a melhor tecnologia possível. Até tratamento com antibióticos é feito antes de instalarmos o piso sobre o campo. Por vezes, é preciso até mesmo acelerar a iluminação artificial, a fim de permitir que a grama faça a fotossíntese, e se recupere mais rápido. Para 2018, decidimos não fazer shows no Anfiteatro ampliado (como foi o de Elton John, com o palco instalado quase no meio-campo), justamente para preservar mais o gramado. Para os show do Phil Collins e do Foo Fighters, o palco ficou cinco metros atrás de uma das goleiras.
Quantas datas por ano no estádio são da Brio?
Não há um limite de datas.
Quanto a Brio arrecada por show?
A Brio tem o direito de exploração comercial do estádio para alguns negócios. O aluguel do Beira-Rio custa R$ 350 mil. A Brio ainda ganha com o edifício-garagem e com todos os bares do estádio, menos aqueles que estão na pista do show, que ficam com as produtoras. O show que mais deu lucro foi o dos Rolling Stones: R$ 650 mil.
Quais foram os maiores públicos em shows no novo Beira-Rio?
Stones foi o maior em todos os sentidos. Foram 46,5 mil pessoas. Depois, Paul McCartney, com 45,4 mil, e o Guns, com 43 mil pessoas. O Foo Fighters tem previsão de 35 mil pessoas.
E como estão as vendas das áreas da Brio no estádio: cadeiras e camarotes?
Das 5 mil cadeiras, temos 1,2 mil vendidas para o ano todo. Além disso, em grandes jogos, vendemos em média 3 mil cadeiras avulsas por partida. Dos 125 camarotes (os skyboxes agora são chamados de camarotes superiores), temos uma ocupação de 50%, o que está dentro do previsto para este momento. O nosso setor de cadeiras agora se chamará Coração do Gigante. Fizemos uma pesquisa junto aos colorados para um reposicionamento estratégico da empresa e este nome visa a uma maior aproximação com a torcida. Além disso, estaremos inaugurando novas lojas e bares no estádio, a partir de março.
A Brio dá lucro?
Dá lucro, sim. Mas, se você pensar que estamos apenas no quarto ano de uma parceria que vai até 2034, ainda estamos longe dos R$ 360 milhões investidos na reconstrução do Beira-Rio.
Como fã de música, quem você gostaria de ver tocando no Beira-Rio?
Queria trazer o The Police (a formação clássica da banda se reuniu novamente apenas em 2007, para uma turnê que durou até 2008). Quem sabe?