— This is a celebration! (Isto é uma celebração!) — avisou Billie Joe durante o show. E foi mesmo.
O Anfiteatro Beira-Rio não estava completamente lotado para receber o Green Day na noite desta terça-feira (7), mas isso não atrapalhou quem foi assistir à Revolution Radio Tour na Capital. Durante duas horas e meia, Billie Joe Armstrong (voz e guitarra), Mike Dirnt (baixo e vocais) e Tré Cool (bateria) tocaram e cantaram com uma animação que parecia não ter fim — a impressão é de que, às vezes, nem mesmo os fãs tinham fôlego para acompanhar o trio.
Depois das aberturas de Vera Loca e The Interrupters, gravações de Bohemian Rhapsody, do Queen, e Blitzkrieg Bop, dos Ramones, acompanhadas por um coelho rosa que andava pelo palco, anunciaram a chegada do Green Day. Às 21h, a banda começou a tocar Know Your Enemy e logo puxou o primeiro fã para o palco — até o fim da noite, outras duas sortudas teriam essa chance. Então foi a vez de ouvir Bang Bang, primeira música da noite que pertencia ao Revolution Radio, seguida pela faixa homônima, tocada enquanto o palco era iluminado com pirotecnia.
O vocalista conversou com o público ao longo de todo o show. Falou, é claro, do quanto estava gostando da noite e puxou os fãs para cantarem junto, mas também deixou explícita sua opinião sobre outros assuntos. Após Holiday, chamou Porto Alegre, pediu que se desligassem as luzes e, com uma lanterna apontada para o público, gritou:
– No racism! No sexism! No homophobia! And no f*cking Donald Trump! (Não ao racismo! Não ao machismo! Não à homofobia! E não ao m*rda do Donald Trump!).
Vieram Letterbomb e Boulevard of Broken Dreams, ambas do American Idiot. Em um dos grandes momentos da noite, Boulevard..., dedicada a quem já se sentiu sozinho, estranho ou deslocado, fez o público cantar em uníssono.
Além das canções do álbum que dá nome à turnê, a banda passeou por suas diversas fases, com músicas dos discos Nimrod, Insomniac, Warning, 21st Century Breakdown, Kerplunk e, principalmente, American Idiot e Dookie — a primeira deste, também com a participação de uma fã no palco, foi Longview, mas também entraram F.O.D., When I Come Around, She e Basket Case, a provavelmente mais esperada da noite e a que mais mobilizou o público (seja para cantar junto, pular ou fazer roda punk). Na Capital, o grupo tocou também J.A.R. (Jason Andrew Relva) e 2.000 Light Years Away.
No meio do show, em Are We The Waiting, Billie enrolou-se em duas bandeiras: uma delas tinha o arco-íris do orgulho LGBT, e a outra exibia os dizeres "Fora Temer" (um pedido repetido mais ao final do show, desta vez em uma bandeira do Brasil), "No Trump" ("Não ao Trump") e "No KKK" ("Não à Ku Klux Klan").
Apresentada depois como Janine, a terceira fã chegou ao palco roubando um selinho de Billie Joe. Tocou a guitarra do ídolo por alguns momentos e, quando acabou, ganhou o instrumento de presente. Divertidos e divertindo, vocalista, baixista e seus três músicos de apoio vestiram máscaras e chapéus em King For a Day — o baterista Tré vestia uma coroa carnavalesca com penas verdes.
Uma boa surpresa foi o trecho instrumental de Garota de Ipanema, tocado em um saxofone. Com um medley de (I Can't Get No) Satisfaction e Hey Jude, respectivamente covers dos Rolling Stones e dos Beatles, Armstrong sentou-se no palco — e foi imitado pelo público. A calmaria não durou muito tempo e o show se encaminhou para o fim com Still Breathing e Forever Now, encerrada com a saída da banda do palco.
Talvez já esperando o bis, o público não pediu por ele — instantes depois de sair, o Green Day voltava para cantar a explosiva American Idiot e Jesus of Suburbia. Dirnt e Cool então deixaram o palco de vez, e Billie Joe emendou versões solo de 21 Guns e Good Riddance, encerrando a apresentação na Capital.
Antes disso, lembrando que o caminho brasileiro da turnê se encerrava em Porto Alegre (após passar por Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba), o vocalista, em certo ponto, se declarou para o país:
— You know how to party, how to have fun. We have so much to learn from you. (Vocês sabem como fazer festa, como se divertir. Nós temos muito a aprender com vocês).
Nós é que temos, Green Day. Obrigada pela noite.