Nos últimos anos só dois motivos mantiveram a torcida gremista na Arena após o fim de uma partida. As comemorações de títulos e Pedro Geromel. A maior parte dos 42.945 torcedores que foram ao estádio neste domingo (8) esperaram em pé a consagração final do zagueiro que, após 409 partidas pelo clube, se aposenta do futebol.
Aos 21 minutos do segundo tempo da derrota por 3 a 0 para o Corinthians, uma das páginas mais azuis da historia do Grêmio virou imortalidade. Foi quando Geromel foi substituído por Pepê.
Após ser jogado ao ar pelos colegas, para êxtase do torcedor, o, agora, ex-zagueiro ficou posicionado exatamente no centro do campo. Seus filhos saíram em um corrida frenética para lhe darem um abraço. Logo chegaram esposa, irmão, pais e as 12 taças conquistas em 11 anos de Grêmio. No telão, imagens de sua trajetória em azul, preto e branco, a começar pela falta cometida em Cristiano Ronaldo na final do mundial de 2017.
— Foi um prazer, uma honra, um privilégio ter vestido essa camisa por tanto tempo. Espero ter representado cada um de vocês cada vez que pisei nesse gramado. O sentimento que eu tenho é de gratidão. Muito obrigado! — discursou, para dar uma volta olímpica acompanhado dos filhos e sob o hino do Grêmio.
Não teve torcedor que ficou sentado na hora da substituição por Pepê. Os companheiros o cumprimentaram. Os adversários também, certamente aliviados. Renato Portaluppi o esperava para dar um abraço de agradecimento.
Os detalhes da despedida
Depois de 22 anos no futebol, não são apenas as pernas de Geromel que clamavam por descanso. Os braços também tiveram trabalho nesse período. Um tanto pelas taças levantadas, outro pouco por aguentar o peso de carregar a braçadeira de capitão e muito pelo quanto ele se comunica com os braços, quase como um interprete de Libras. Orienta os companheiros. Os aplaude. Estende os dois braços para reclamar da arbitragem, um, duas, três, 409 vezes.
Na maior parte do seu jogo, Geromel mostrou a experiência de quem conhece as artimanhas de atuar na proteção da área. Fica ali, na maior parte do jogo, como quem não quer nada. Mas sabe tudo o que acontece à sua direita, à sua esquerda, à sua frente, e nas suas costas. Passa boa parte da partida naquele trote de quem vai se exercitar na orla do Guaíba no domingo pela manhã. Só para despistar.
Na prática, está sempre com o radar ligado. Como naquele lance em que bloqueou chute de Memphis Depay, aos 11. E, na sequência, em nova dividida, espanou a bola para o além. Gols já foram comemorados com menor efusividade do que a torcida presente na Arena festejou as duas jogadas.
Palmas quando deu tranco no holandês. Gritos de bravo quando antecipou Yuri Alberto. Aplauso quando encaixou passe improvável para levar o time ao ataque. Apesar do dia especial, Geromel mantinha a compostura, como se fosse outro jogo qualquer. Pouco regia.
O pênalti cometido em Yuri Alberto não foi aplaudido porque não seria de bom tom fazê-lo. Se não contrariasse a etiqueta futebolística, os gremistas teriam aplaudido também. Como fizeram em quase todas as 33 vezes em que tocou na bola.
É, Geromel cometeu o pênalti que resultou no primeiro gol do Corinthians, mas só para mostrar que é humano, o que torna sua trajetória ainda mais imortal.