A mecha branca no cabelo soa como um aviso. O tempo passou. Passou para Pedro Geromel. Passou para o torcedor. Passou para o Grêmio. A tarde de domingo (8) será um momento de homenagem e de saudade do que passou e não volta mais. Também de uma saudade antecipada, da ausência que se aproxima. Será um momento de dizer, caramba, tanto aconteceu. Caramba, passou tão rápido. Caramba, o Geromel está se aposentando. Caramba!
Aos 39 anos, 10 deles muito bens vividos no Grêmio, Geromel fará sua última partida diante do Corinthians, na Arena. O fim do ciclo de jogador. O iminente fechamento de uma era para o clube, já que Kannemann ainda está aí.
Ainda que Geromel não imagine a vida sem o Grêmio, sem os treinos, sem as viagens, sem a Arena gritando o seu nome, o zagueiro que tem mais 90 minutos de vida futebolística evita sentimentalismos antes da sua despedida.
— Acho que é o ciclo da vida. Todo mundo sabe que a vida é assim, tem começo, meio e fim. Todo mundo vai passar por esse momento, vai chegar o momento que não consegue mais. E chegou um momento que eu vi que eu não estava conseguindo mais — minimiza.
Mas quando ele estiver na frente da grande área à espera do início da partida e der uma olhada de 360º pela Arena duvida-se que passará imune a emoções. Ele verá 30 mil gremistas usando a sua máscara. Observará 9 mil braçadeiras de capitão enroladas nos braços daqueles que representa desde 2014 ao usar a tarja em seu próprio braço. Aquele símbolo que lhe deu o direito de levantar taças para o deleite de uma nação azul, preta e branca. Uma história e uma relação cunhadas sobre incertezas iniciais.
Pedro Tonon Geromel desembarcou em Porto Alegre no fim de 2013, daquele jeito de quem não parece um zagueiro. Longe do biotipo de xerifão que vive no imaginário de muitos torcedores. Um andar que parecia meio fora de prumo para quem tem que parar atacantes velozes.
O nome incomum foi motivo de piadas. Geromel sequer conseguiu espaço no time reserva do coletivo nos seus primeiros dias. Marcou um gol contra no seu segundo jogo, diante do São Luiz. Faz tempo. Porque olhar o que Geromel se tornou após 409 jogos, com o de domingo, faz parecer que não se trata da mesma pessoa. Jogo a jogo, transformou a vida de quem se aventurava na grande área gremista em um labirinto quase impossível de sair do outro lado com bola dominada.
A cada carrinho, a cada rebatida, a cada falta, como aquela no Cristiano Ronaldo, apagou a desconfiança. A cada cabeçada, a cada jogo ao lado de Kannemann, a cada roubada de bola intensificou laços de admiração mútua com a torcida. Vitórias. Títulos. Copa do Brasil. Libertadores. Recopa. Gauchão. Quando se viu, Geromel deixou de ser um jogador para ser um representante gremista em campo. Para ombrear espaço com Airton Pavilhão, Ancheta, De León no panteão de zagueiros que fizeram história na Azenha e no Humaitá.
— É uma torcida que não tem o que falar. É só agradecer por todos esses 10 anos, por tudo o que a gente passou junto. Foram alegrias, tristezas, emoções, felicidade, comemoração, raiva. Já passamos por tanta coisa juntos — destaca.
No domingo à noite, quando olhar no espelho e enxergar naquela mecha branca no cabelo o tom da experiência. E, no Grêmio, a experiência de Geromel foi das melhores.
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