“Nome de remédio”. “De onde apareceu este rapaz”. “Não basta ser jogador, tem de se chamar Geromel”. Estas foram algumas das “boas-vindas” disparadas pelo torcedor do Grêmio nas redes sociais para recepcionar Pedro Geromel, no fim de 2013. Mais de 400 jogos depois, a situação é outra. No domingo (8), contra o Corinthians, ele será homenageado como um dos grandes ídolos da história do clube.
Em conversa exclusiva com o Grupo RBS, Geromel analisou a sua chegada como um “desconhecido” ao Grêmio. O zagueiro retornava ao Brasil após uma década na Europa. Foi uma espécie de recomeço.
— Para mim, foi difícil essa aceitação, já tinha 10 anos de Europa, já tinha jogado nas melhores ligas do mundo e fiquei pensando: “Tem que começar tudo de novo”, tinha um longo caminho pela frente, mas com perseverança, com trabalho, fazendo sempre a coisa certa, sem nunca passar a perna em ninguém, sem nunca desmerecer ninguém, eu sabia que ia ter uma oportunidade — contou.
A oportunidade não foi imediata. No primeiro coletivo da pré-temporada, ele sequer foi escalado no time reserva. Sobrou. Era a quinta opção na hierarquia da posição. A dupla titular tinha Werley e Rhodolfo. A reserva contava com Saimon e Bressan.
O técnico era Enderson Moreira. Quem aprovou a sua contratação havia sido Vanderlei Luxemburgo. O que significava que nem mesmo o treinador do time tinha maiores conhecimentos sobre os atributos daquele zagueiro vindo do Mallorca.
— Acho que é normal a desconfiança. Chega um jogador que ninguém nunca ouviu falar, que ninguém nunca viu jogar. Essa desconfiança é completamente normal, e eu tive humildade para trabalhar, força de vontade, dedicação, para mostrar o meu valor e isso daí nada melhor do que o tempo para provar — relata.
"Sou canhoto"
O tempo foi de dois meses de trabalho. Geromel estreou apenas no fim de fevereiro, diante do Novo Hamburgo, pelo Gauchão. A oportunidade surgiu de maneira meio estranha. Os desfalques começaram a pipocar, e Enderson cogitou colocar Werley pelo lado esquerdo do miolo defensivo. Na esquerda ele não jogaria, afirmou para o treinador.
O atrito fez o técnico perguntar se Geromel atuava por aquele lado. Mais do que jogar, ele mudava até o seu pé dominante para ser escalado.
— Eu queria jogar, eu jogo de qualquer lado. Quando ele perguntou se eu jogava do lado esquerdo, eu falei que era canhoto. Eu queria jogar — relata rindo.
Ao falar daqueles dias de ostracismo, Geromel relembra a sua inspiração para esperar a oportunidade e deixa uma mensagem para jogadores mais jovens. Primeiro a inspiração.
— Eu ficava olhando e falava: “Nossa, o Zé Roberto, que é o Zé Roberto, é uma referência no futebol mundial, não estava sendo convocado”. Ele continuava chegando cedo, indo embora mais tarde que todo mundo. Eu falava: “Se o Zé está treinando esse tanto, eu tenho que me condicionar a treinar também para ter uma oportunidade” — lembra.
Agora, vem a mensagem para quem busca um lugar de destaque no futebol, principalmente aqueles que enfrentam dificuldades para o crescimento, mas também para as pessoas em geral.
— Vejo que muitos jogadores, muitas pessoas na vida também, que ficam reclamando da falta de oportunidade, em vez de trabalhar, se preparar, adquirir conhecimento, adquirir outras formas para, quando chegar a oportunidade, estar pronto. As pessoas ficam reclamando — filosofa.
Depois de 409 jogos, contando o de domingo, Geromel completa o seu ciclo no Grêmio e no futebol. A história de desconhecido, um improvável ídolo, que virou o Geromito.