A defesa foi o esteio dos melhores momentos do Grêmio na Série B. A equipe de Roger Machado encerrou o primeiro turno com a defesa menos vazada entre os 60 times das três primeiras divisões do Brasil. Mas o setor entrou em crise no returno. Se, nas 20 rodadas iniciais — considerando também a partida contra a Ponte Preta, na Arena —, foram apenas sete gols sofridos, os números pioraram bastante desde então, com 10 bolas na rede em sete jogos. Um dos pontos que trouxe instabilidade é que a escalação passou a ser alterada desde o jogo contra a Chapecoense.
A principal mudança foi o ingresso de Lucas Leiva, desmanchando a dupla formada por Bitello e Villasanti em boa parte da temporada. Natã, Edílson e Diogo Barbosa também ganharam oportunidades e participaram das variações nos últimos jogos. Até mesmo o goleiro mudou: recuperado de lesão muscular, Brenno voltou ao posto de titular contra o Guarani, no lugar de Gabriel Grando. E foi vazado em todas as partidas desde seu retorno.
A justificativa nos bastidores é de que essas mudanças alteraram uma dinâmica consolidada desde o Gauchão. Lucas voltou da Europa em boas condições físicas, mas ainda busca melhor ritmo de jogo. A ideia da comissão técnica era de promover sua entrada de forma gradual na equipe, mas a turbulência recente coincidiu justamente com essas alterações. As outras trocas trouxeram prejuízos pontuais, como as ausências de Geromel e Bruno Alves, ou a opção técnica pela entrada de Edílson no lugar de Rodrigo Ferreira.
— O Grêmio jogava mais protegido antes do Lucas chegar. Villasanti e Bitello jogavam juntos, às vezes até o Thiago Santos entrava. Como Lucas ainda está em processo de readaptação, o time fica menos compacto e mais lento. Villasanti tentou orientar a marcação contra o Criciúma e não conseguiu. A chegada do Lucas não é ruim, mas sua entrada foi açodada. O Grêmio estava encaixado. Tinha menos grife, mas mais resultado — opina Lédio Carmona, comentarista do Grupo Globo.
Além das questões táticas, o jornalista Gabriel Corrêa aponta que problemas técnicos individuais também prejudicaram o rendimento defensivo. O analista do projeto Footure avalia que o desencaixe do time de Roger Machado tem início na dificuldade de acertar a pressão ao marcar o adversário com a bola.
— De maneira geral, é um time que não tem conseguido pressionar e fechar espaços. Se analisarmos de maneira individual, Edílson não jogou bem e expôs Geromel. É um grande zagueiro, mas não vai salvar sempre. O problema é coletivo, de falhar nesse sentido de marcação, e o time tem sofrido nos últimos jogos — diz Corrêa.
O dia seguinte à derrota em Criciúma não teve as tradicionais reuniões entre direção e jogadores, ou comissão técnica e atletas. A busca por alternativas foi feita de forma individual. O treino de quarta-feira ainda não teve nenhum esboço da provável escalação para a partida contra o Vila Nova, na sexta-feira, mas este jogo ganhou caráter de decisão pelo momento gremista. A grande dor de cabeça para Roger é encontrar, novamente, equilíbrio para acabar com a sequência de quatro jogos sem vitória.
Um problema a mais se confirmou na reapresentação: Nicolas voltou a sentir uma lesão muscular na panturrilha e será desfalque por aproximadamente 20 dias. Uma nova lacuna no sistema defensivo, e no momento mais delicado do Grêmio no ano.