Um dos fatores que colocou o Grêmio na decisão do Gauchão foi a mudança promovida por Roger Machado no meio-campo a partir do jogo contra o Ypiranga, pela última rodada da primeira fase. Foi naquela tarde, na Arena, que o treinador consolidou de vez o uso do tripé formado por Villasanti, Lucas Silva e Bitello. Com suporte para o sistema defensivo e também envolvidos na saída de bola para ajudar na frente, os três formam a base da equipe que venceu o time de Erechim, na ida, e que será repetida na decisão deste sábado — assim como na largada da Série B.
Os números jogam a favor da escolha de Roger. Principalmente quando se analisam as estatísticas defensivas: desde a primeira partida contra o Ypiranga, o time sofreu apenas um gol em quatro partidas. E a única vez em que Brenno acabou vazado foi em um lance de bola parada — a falta cobrada por Taison, no Gre-Nal da Arena, pela semifinal.
Como comparação, o 4-2-3-1 adotado nos jogos contra Mirassol, Novo Hamburgo e Inter (pela primeira fase) teve o Grêmio vazado cinco vezes em 270 minutos. O modelo atual, também utilizado na estreia da nova comissão técnica, tem números muito mais positivos, portanto.
O segredo do bom momento defensivo do Grêmio é a mobilidade do trio de meio-campistas. Essa é a opinião de Carlos Miguel, meia que tinha também funções de marcação no time multicampeão dos anos 1990: com jogadores mais leves, a capacidade de marcar aumenta, assim como a recomposição caso a pressão não dê resultado. Isso tudo resultado em maior eficiência para recuperar a bola. Caso não seja possível retomar a posse, os zagueiro enfrentam os atacantes adversários em melhor condição para realizar o desarme.
— Em primeiro lugar, a passagem do Villasanti para a função de primeiro volante no lugar do Thiago Santos deixou o time mais leve, com mais mobilidade. A parceria entre Thiago e Lucas Silva deixava o time pesado. O que mudou foi a questão das peças, o sistema segue muito parecido. O time é mais móvel e permite marcar em cima. A bola chega mastigada nos defensores, e aí entra a qualidade do Geromel e do Bruno Alves — explica Miguel, que hoje comanda o time sub-15 gremista.
A avaliação do ex-jogador é semelhante à do analista Gabriel Corrêa, do projeto Footure. A escolha de Roger em redistribuir as peças, assim como a aposta em Villasanti ao lado de Lucas e Bitello, trouxe uma nova capacidade do time para se defender.
— Aponto três fatores principais para a melhora defensiva: dois individuais e um coletivo. Individualmente, o Villasanti jogando como um camisa 5. Defende bem, recupera bolas e protege bem o espaço entre defesa e meio. E é melhor do que Thiago Santos. Rodrigues na lateral direita também defende melhor do que Orejuela. Não tem uma chegada forte, mas dá consistência ao time. A troca do 4-2-3-1 para o 4-1-4-1 ajuda no sentido defensivo. A diferença do primeiro Gre-Nal para os outros é que o Grêmio protegeu melhor o espaço entre a defesa e meio — comenta Corrêa.
Mesmo que a estratégia tenha como base a proteção ao próprio gol, os atacantes também se beneficiaram com essa marcação mais forte. Os quatro gols marcados pelo Grêmio nos mata-matas do Gauchão nasceram em roubadas de bolas, com a construção das jogadas a partir da recuperação da posse.
— O Grêmio mudou um pouco a forma de marcar. O Roger explicou isso após a goleada do Gre-Nal. O Grêmio joga marcando por encaixes, como era com o Mancini, mas agora acertou o timing. Cada um acompanha o seu jogador designado para marcar até um ponto determinado. O que o Roger explicou na entrevista é como funciona essas trocas de marcação. Isso foi ajustado. Como se defende melhor, rouba mais bolas. Essa defesa mais eficiente deixa o time em melhores condições de recuperar a bola no contra-ataque — diz Leonardo Miranda, analista tático do Grupo Globo.
Com o estilo mais "copero" e com menos ênfase no "tiki-taka", o Grêmio aposta suas fichas na defesa contra o Ypiranga para levar o penta estadual. Se Brenno terminar a partida de sábado sem ser vazado novamente, o clube fatura o Gauchão — e dará mais um motivo para o torcedor acreditar que o ano da retomada está bem encaminhado.
A EVOLUÇÃO DO GRÊMIO NA MARCAÇÃO DO MEIO
Grêmio 2x1 São José
20 desarmes
1 interceptação
Grêmio 2x0 Guarany-Ba
12 desarmes
5 interceptações
Grêmio 1x1 Juventude
10 desarmes
5 interceptações
Mirassol 3x2 Grêmio
9 desarmes
7 interceptações
Grêmio 4x0 São Luiz
9 desarmes
3 interceptações
Inter 1x0 Grêmio
15 desarmes
3 interceptações
Novo Hamburgo 1x1 Grêmio
18 desarmes
5 interceptações
Grêmio 2x0 Ypiranga
17 desarmes
7 interceptações
Inter 0x3 Grêmio
16 desarmes
7 interceptações
Grêmio 0x1 Inter
6 desarmes
3 interceptações
Ypiranga 0x1 Grêmio
23 desarmes
4 interceptações