A caminhada do Grêmio no futebol feminino enfrentou os obstáculos inéditos de 2020 com otimismo. O ano do retorno da equipe à elite do Brasileirão foi também de adaptações no trabalho por conta da pandemia e um surto de covid-19 dentro do clube às vésperas de uma decisão. A técnica Patrícia Gusmão, que completa a segunda temporada ininterrupta no comando das Gurias Gremistas, prepara o time para mais um Gre-Nal em final de Gauchão, com a vontade de coroar uma jornada de superação e paciência.
— A preparação vem desde a retomada na pandemia. Agora, usamos o Estadual também para dar tempo de jogo para as meninas, porque o time é jovem. Ao mesmo tempo, queremos o título, é importantíssimo para nós — ressalta, no meio da semana de treinos para o clássico decisivo do próximo domingo (20).
A aposta do Grêmio é ter desenvolvido essas jovens em uma campanha de gente grande ao longo do Brasileirão. Patrícia também destaca a importância das atletas mais experientes no plantel. A treinadora espera surpreender as rivais — que já acumulam oito confrontos diretos sem derrota.
— Em 2019, tivemos problemas no Gre-Nal com muitas meninas lesionadas. A média de idade era maior. Apostamos tudo no retorno à elite e chegamos à final do Estadual desgastadas. Não conseguimos superar os problemas físicos. Este ano, a equipe é jovem, e viemos com o objetivo de dar experiência para elas — argumenta.
Patrícia completou 42 anos de idade na segunda-feira (14), mais da metade deles envolvida com o futebol. Primeiro como meia-atacante, e nos últimos sete anos, na casamata. O desafio dela nessa temporada era fazer um elenco que não passava de 30 jogadoras, majoritariamente jovens, ficar na Série A1 do Brasileirão. Ela fez mais: terminou a fase classificatória entre as oito melhores da tabela e levou as gurias para o mata-mata.
No entanto, jogadoras titulares e membros da comissão técnica somaram 13 contaminados pelo coronavírus na semana antes da decisão contra o Corinthians. O multicampeão paulista avançou e conquistou mais um título.
— Foram semanas bem difíceis. Estar no meio de uma competição, conseguir uma classificação legal na tabela, um objetivo que sabíamos que era difícil e foi conquistado, surgir esse contágio de tantos profissionais, foi muito complicado — lamentou a técnica, uma das contaminadas, e que ainda perderia a avó de 87 anos para a doença.
Patrícia conta que sentiu alguns sintomas: dificuldade para respirar, ausência de olfato e de paladar. Atenta aos cuidados e ao isolamento, dirigia-se sozinha de carro até o Estádio Vieirão, em Gravataí, e assistia aos treinos da arquibancada.
— Era importante para as meninas ver que eu estava ali, bem. Passava confiança — opina, ressaltando que o clube deu todo suporte médico necessário às jogadoras.
Ao longo dos dias, os sintomas sumiram, as jogadoras se recuperaram, e o Grêmio fez os enfrentamentos possíveis contra as paulistas campeãs, perdendo na Arena por 3 a 0 e em Itaquera por 2 a 1.
A decisão do Gauchão, marcada para às 10h do próximo domingo (20), mexe com a rotina da equipe. A preleção terá de ser na noite anterior para não tirar tempo do café da manhã, às 7h, e do deslocamento para o palco da partida, às 8h. Patrícia confia nas Gurias Gremistas não só para reconquistar o Estadual que foi erguido por ela no comando do Tricolor em 2017, mas também para alçar voos mais altos em 2021:
— Ficamos entre as oito melhores este ano. Para o próximo, vamos manter a mescla de experientes com jovens e tentar ficar entre as quatro para conseguir vaga na Libertadores.
