E se foi o Jael. Para um merecido negócio do Japão, depois de muito gramar, da Bahia ao Rio Grande do Sul, entre outros pagos. Ao fim e ao cabo, seus números não impressionam, embora tenha feito um mínimo de gols e de assistências importantes, incluindo aquela que levou o Grêmio à final da Libertadores conquistada. Se não chegam às dúzias, pouco importa. Ao fim e ao cabo, os números pouco importam. O que mais importa, no final, são as histórias e o que elas representam ou significam.
É o que fica, parodiando o poeta Drummond, na memória individual e coletiva de uma torcida, amostra da comunidade maior. Jael representou empenho e esforço. Garra para jogar e viver. Não foi contemplado com a técnica de um Romário, tampouco a genialidade de dois Ronaldos, mas soube correr atrás. Quase nada nos cai às mãos, é preciso correr atrás quase o tempo todo. E como Jael correu, a cada lance, sempre a postos, sem tempo ruim para não tentar de novo.
A forma como comemorava os gols com a camisa tricolor, não abundantes, também é significativa e simbólica. Braços entre erguidos e dobrados, realçando a força dos músculos e o seu esforço total para levar o corpo inteiro até ali.
A vida parece fácil, mas está longe disso, conforme consta escrito por tudo e também nas linhas do futebol. Junto a mitos renovados e fábulas ancestrais, o esporte mantém o bastão de continuar contando essa verdade, no presente. Jael soube disso no Grêmio e nos ensinou de forma didática. Um dom pode vir do céu ou dos genes, mas o patamar dos resultados obtidos se decide no esforço de todos os dias. Diz-se que 10% é inspiração, o resto seria esforço e expiração. Prefiro a fórmula revista pelo Fraga, aproximadamente assim: 90% é suor, 10%, desodorante.
Jael foi para o Japão, não sem antes ensinar os brasileiros que tudo depende de muito trabalho, de dentro para fora, alheio a críticas e a pressões. Ensinou também que aquela tartaruga do francês continua viva e superando muitas lebres por aí.