Uma gigante do agronegócio, a 3Tentos mantém sua sede em Santa Bárbara do Sul, no noroeste gaúcho. Em 2023, a empresa teve receita líquida de R$ 9 bilhões. A de 2024 será divulgada em breve ao mercado, pois a companhia tem capital aberto da bolsa de valores desde 2021. Confira conversa da coluna com João Marcelo Dumoncel, fundador e COO (diretor de operações) da 3Tentos.
Como a empresa atua hoje?
Somos uma empresa gaúcha, fundada há quase 30 anos por mim e meu irmão, nascidos no interior do Estado, em Santa Bárbara do Sul. Atuamos em um ecossistema que vai desde o fornecimento de insumos aos agricultores à tecnologia para melhor usá-los para extrair a máxima produtividade. A 3Tentos atua na recepção dos grãos produzidos, especialmente soja, mas também milho e trigo, e industrializa em fábricas de biodiesel e etanol. Ou seja, muito voltada ao biocombustível. A empresa é uma cadeia produtiva.
Como se conecta com a economia verde?
Em várias coisas. A primeira é nos insumos. O produtor tem a missão de produzir cada vez mais dentro do hectare, obviamente com uso racional de insumos. No meu entendimento, aumento de produção é a melhor forma de preservação ambiental. A demanda por alimentos cresce e muitas pessoas nem têm ainda alimentação adequada. Para produzir mais, se aumenta área plantada ou então eleva produtividade, o que é o intuito da 3Tentos.
Além de alimento, o grão é usado para energia renovável.
Sem dúvida. É uma cadeia dupla, desmistificando que o biocombustível poderia ser um concorrente da alimentação. É o contrário. A potencialização do consumo de biocombustíveis estimula a produção de farelo de soja. A indústria de biodiesel tem viabilizado investimentos pesados na extração de óleo da soja, que é menos de 20% da produção. O farelo de soja vai para toda a cadeia da produção de proteína animal. Então, fomenta muito isso. O Brasil pode ser a Arábia Saudita dos biocombustíveis. Está na hora de deixarmos de ser o país do futuro para sermos o país do presente. A economia verde é o vetor para isso.
Acreditam no aumento da demanda por etanol?
Sem dúvida. O etanol é uma joia brasileira. É um combustível renovável no qual o Brasil é extremamente competitivo na produção, tanto pela cana-de-açúcar quanto pelo milho. A frota brasileira de carros é quase na sua totalidade flex. O uso do milho tem baixado o preço na bomba, onde tem que custar menos do que 70% da gasolina para valer economicamente para o consumidor. A emissão de carbono do carro etanol no Brasil (20 gramas por quilômetro rodado) é 1/4 da do elétrico na Europa (80 gramas). No posto de gasolina, ainda não tem uma bomba de biodiesel, mas a 3Tentos tem cinco caminhões movidos exclusivamente ao biocombustível. Possivelmente, o mercado terá no futuro frota pesada flex, o que dará um incentivo grande. Um caminhão a biodiesel produz 85% menos CO2 do que um veículo movido a diesel fóssil. É um impacto brutal nas emissões, visto que hoje mais de 10% de todas as emissões mundiais vêm do transporte terrestre: de carros, caminhões, ônibus. Descarbonização e desenvolvimento econômico, uma coisa não vai funcionar sem a outra. Vão dizer: "Ah, porque é caro, porque fica inviável". Tem nichos que conseguem pagar e, além disso, vamos tornar a economia verde competitiva.
Como ampliar a produtividade do agro gaúcho, que tem perfil de propriedades menores do que no Centro-Oeste?
O produtor gaúcho tem várias tecnologias que não precisam ser adquiridas. O drone, por exemplo, é um serviço que pode ser contratado, ser terceirizado. É o trabalho de adequar o uso do insumo para um melhor resultado ao produtor, que é extremamente competente e aberto a novas tecnologias. O brasileiro dá show no mundo, que tem medo do Brasil e muitas vezes usa narrativas ambientais para nos atacar e nos limitar em muitos mercados. Cresce absurdamente no Brasil o uso de insumos biológicos, que são naturais e reduzem os químicos, que já melhoraram sua pegada ambiental. Sobre escala, repito: tem que ser bem trabalhada através das tecnologias, do uso adequado dos insumos e através de associações, de terceirização de serviços e de máquinas.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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