Além de deixar mais caro o financiamento dos imóveis, a alta do juro tem outra impacto: reduz o recurso disponível para emprestar para a compra da casa própria. Investir em aplicações financeiras de renda fixa fica muito mais atrativo do que deixar o dinheiro na poupança, o que seguirá aumentando os resgates e reduzindo os depósitos na caderneta, principal fonte do crédito habitacional. Hoje, 65% dos recursos depositados na poupança são, por lei, direcionados para estes empréstimos.
Essa situação já foi um problema ao longo de 2024, como a coluna antecipou na época. A Caixa Econômica Federal, que domina este mercado, e outros bancos estabeleceram restrições para liberar financiamentos imobiliários. Compradores aguardam meses pela assinatura do contrato e, quando conseguem, pela liberação do dinheiro. As opções para injetar mais recursos neste mercado ainda seguem em discussão entre governo federal e entidades do mercado imobiliário.
Lembre-se de que o ano passado começou com a expectativa de que a taxa de juro Selic caísse a um dígito, o que turbinaria a venda de imóveis. Houve uma reviravolta. Com receio do compromisso federal com as contas públicas do governo Lula e as ameaças inflacionárias do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, o dólar disparou, fazendo com que a previsão de alta de preços fizesse o Banco Central intensificar a alta do juro e já avisar que aumentará mais nas duas próximas reuniões.
Diretora de Assuntos Habitacionais do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Rio Grande do Sul (Sindimoveis-RS), Simone Carvalho também pondera que o juro alto dificulta que o consumidor reduza seu endividamento, o que deixa mais difícil a análise de crédito para liberação do financiamento do imóvel e até dar uma entrada maior na compra, o que está sendo exigido atualmente pelos bancos. Segundo Simone, até mesmo os empréstimos do Minha Casa Minha Vida são atingidos pela alta do juro, apesar de serem política pública do governo federal.
Juro maior à vista
Bancos públicos e privados já estão aumentando o juro do financiamento imobiliário. Segundo o a diretora Simone Carvalho, do Sindimóveis-RS, a Caixa Federal está elevando de 9,89% para em torno de 10%. Nos privados, a taxa está subindo de 10,49% para cerca de 11%.
- Depende do valor e do prazo, mas, pegando um financiamento médio, de longo prazo, dá R$ 100 a mais por parcela, elevando o valor total em R$ 36 mil - calcula.
Alternativas
Entre as opções no mercado, a diretora Simone sugere o financiamento imobiliário com correção pela Taxa Referencial (TR). Apesar de mais alta do que a taxa pelo IPCA (índice de inflação), a variação mensal da TR é baixa, o que dá previsibilidade quanto ao valor das parcelas. Ela também é usada para corrigir a poupança e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Outra alternativa é o consórcio. Ele não tem taxa de juro, embora tenha uma taxa de administração. As correções das parcelas e do saldo devedor antes da contemplação costumam ser por algum índice de inflação. A desvantagem em relação ao financiamento é de que é preciso ser sorteado ou conseguir a carta de crédito via lances. Para acelerar, existe o lance embutido, que permite complementar o valor dele com a própria carta de crédito. Geralmente, as administradoras permitem que chegue a 30% do valor da carta do consórcio.
Exemplo de lance embutido:
- Carta de crédito: R$ 200 mil
- Lance embutido: R$ 60 mil (30%)
- Quanto o consorciado receberá, então, se contemplado: R$ 140 mil
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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